domingo, 30 de dezembro de 2012

Proteção aos Animais




Para a morigeração dos nossos costumes, uma grande medida é preciso tomar desde já.
Coibir os maus tratos aos animais, que a cada passo se presenceiam pelas ruas desta cidade.
Praticam-se verdadeiros abusos.
Carregam-se demasiadamente os veículos; espancam-se brutalmente os animais; presenciam-se toda as casta de barbaridades e não se levanta um braço que obste tudo isso.
Animais mortos de fome, tirando carros com pesos superiores às suas forças, outros trazendo sobre dolorosas chagas, grossas e ásperas correias!
Depois, agrava-se este abuso com o emprego de carneiros e cães tirando pequenas carroças de mão!
Não se pode nem se deve consentir isto.
Não se pode: porque aos nossos sentimentos humanitários e de educação repugna assistir a estes espetáculos; não se deve porque estamos prejudicando a instrução das crianças, ensinando-lhes atos de malvadez.
E como se acaba isto?
Reprimindo estes abusos à força do emprego de todos os meios.
Se o primeiro carroceiro que espancasse o animal; o que fosse encontrado conduzindo no veículo peso superior ao que devia, e o que empregasse no serviço de tiro animais cujas aptidões não servem para tal, e só perturbam o trânsito dando uma triste ideia do que somos:-havia haver respeito pela lei.
Porque na lei nós temos elementos para acabar com isto.
Em tempos pensou-se em fundar aqui uma “Sociedade Protetora dos Animais” delegada da de Lisboa, mas os mais entusiásticos esmoreceram e não chegou a realizar-se, uma das causas que motivou também isto, foi não se ver aqui um corpo de polícia que coadjuvasse os esforços dos membros da sociedade.
Mas a imprensa micaelense, honra lhe seja, tem sempre advogado a necessidade de proteger os animais.
É tempo, pois, dela ser ouvida.
Não se pode calcular o mal que faz à educação da mocidade, estas brutais cenas que aí vemos a cada passo.
Esperamos que os nossos colegas nos acompanharão nesta cruzada.
Havemos pedir, pedir muito, até que alguém nos ouça e dê deferimento às nossas reclamações a favor da civilização.
Noutro lugar desta folha publicamos uma nota de lei para a qual chamamos a atenção da autoridade administrativa.

(Diário de Anúncios, nº 2226, 16 de Julho de 1892)

Nota- Embora não assinado supomos que o texto é de Alice Moderno que esteve ligada ao referido jornal naquela data.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Envenenamento de um cão



O distinto poeta Bulhão Pato visitou frequentemente os Açores, demorando-se às vezes meses em São Miguel e na Terceira. Foi muitas vezes, em Vila Franca hóspede do seu grande amigo Sebastião do Canto.

Dedicado à espécie canina, causa emoção uma poesia elegíaca inspirada pela morte de uma linda perdigueira, sua fiel companheira das caçadas.

Dotado, como quase todos os poetas, de rara sensibilidade, Bulhão Pato sentiria certamente desgosto se soubesse que a Vila Franca das Flores se notabilizava pela guerra feita ao mais fiel amigo do homem, o pobre cão.

Mais de uma vez, naturais da Vila, e citarei como exemplo o ilustre vila-franquense sr. Dr. Urbano Mendonça Dias, têm chamado a minha comovida atenção para o lamentável espetáculo que oferecem, expostos nas ruas, cadáveres de cães a que foi propinada estricnina por mão incógnita e impiedosa.

Ultimamente deu-se mais um destes casos: um continental saiu da vila abandonando o um pobre cão que possuía.

Uma gentil criança, filha do sr. Manuel Cabral de Melo, residente na rua da Vitória, tomou o desamparado quadrúpede sob a sua proteção, e todos os dias lhe fornecia um repasto que lhe garantia a existência.

Pessoa de mau coração - parece que moradora na mesma rua e muito embora o infeliz animal fosse absolutamente inofensivo, entendeu eliminá-lo da circulação envenenando-o cruelmente com grande mágoa do seu jovem protetor, cujo excelente coração é digno de maiores elogios.

Felizmente, parece que semelhantes casos não se repetirão por muito tempo visto que no continente da República há quem esteja eficazmente ocupando dos direitos dos irracionais e do dever que assiste ao Estado de os proteger.

Em breve tratarei deste momentoso assunto e para o ilustre zoófilo que no mesmo se empenha vão desde já os meus mais sinceros e comovidos aplausos.
Alice Moderno

(Diário dos Açores, nº 20026, 26 de Julho de 1945)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

PELOS ANIMAIS


A imprensa local mercê de alguns espíritos generosos, recomeça a sua campanha a favor dos pobres animais, que nenhuma lei protege, e se encontram à mercê de todas as brutalidades, vitimas imbeles de um destino atroz.

Não há muito tempo noticiava o Diário dos Açores que ao animal encarregado do tiro de uma carroça de beterraba sacarina para a fábrica de Santa Clara esvaziara o condutor um olho, e, todavia, ninguém tratou de apurar o número da carroça, a fim de que o bárbaro carroceiro recebesse a recompensa do seu humanitário feito.

A brandura dos nossos costumes reverte nisto: a mais completa crueldade para com aqueles que na frase de um escritor francês nenhuma lei protege…

Para a humanidade desamparada criaram-se os asilos de infância desvalida e mendicidade, há as creches, os albergues noturnos, as cozinhas económicas, os subsídios concelhios e distritais, muitas vezes concedidos sem discernimento e por favoritismo, a esmola, aos sábados, a assistência nacional, etc. etc.

Para os animais, tão bons amigos e tão úteis auxiliares do homem, nada existe, além de umas posturas camarárias que não se cumprem, genericamente falando, além da Sociedade Protetora dos Animais, criada pela imprensa, e que, por falta de um zelador a quem se pague, e de um posto veterinário, pouco pode conseguir além da propaganda, que não tem descurado e constantemente apregoa.

Em São Miguel, terra onde abençoadamente floresce a Caridade, não pode nem podia deixar de existir a Sociedade Protetora dos Animais, que conta bastantes sócios, e à qual o benemérito titular, sr. Marquez de Jácome Correiam, concedeu o subsídio de 100 escudos anuais.

Mas esses recursos materiais não têm sido suficientes para que se pudesse estabelecer um posto veterinário com médico e servente, e menos ainda um hangar, onde os animais doentes recebessem socorros médicos, enfermagem e alimentação.

Daí a crónica trágica do Caldeirão, para onde são atirados os animais considerados inúteis, e ainda o bárbaro e indecoroso espetáculo que dia a dia presenciamos, de animais abandonados na via pública pelos seus descaroáveis donos!

Ora este estado de coisas não pode continuar assim, sob pena de perdermos foros de civilizados. É necessário que de entre tantos que podem dispor do seu tempo não totalmente absorvido pela luta pela vida, alguém que tome a peito a generosíssima cruzada e desça a defender aqueles que nenhuma lei protege contra as brutalidades da ignorância e as alucinações do álcool.

Estabeleça-se um pequeno ordenado a um indivíduo dedicado à causa dos animais e cujo mister consistirá em receber queixas, fornecer esclarecimentos, e zelar o cumprimento das posturas municipais, devendo permanecer na sede em determinadas horas do dia, e tomar nota dos donativos, e da fiscalização a exercer sobre os agentes da autoridade que, segundo se vê, não estão para se ralar, tal é a abundância de animais de tiro chagados, ou zarolhos, e ainda de aves suspensas pelas pernas, que se encontram diariamente nas primeiras horas do dia, nos sítios mais frequentados de Ponta Delgada.

Pela nossa parte não temos descurado o assunto, tendo mesmo frequentemente ligado a prática à teoria nesta cruzada em prol dos nossos irmãos inferiores.
Como, porém, uma boa vontade isolada nada pode fazer, apelamos para o auxílio de todas as pessoas de coração, a quem certamente terá muitas vezes pungido o lamentável espetáculo exibido nas tuas de Ponta Delgada pelos infelizes seres que vimos defendendo, pessoas estas que convidamos a alistar-se nesta cruzada que, sendo de todas a mais desinteressada, é por isso mesmo a mais generosa.

A.M.

(A Folha, nº 668, 5 de Dezembro de 1916)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma barbárie sem justificação


Referimo-nos não há muitas semanas ao triste espetáculo produzido frequentemente nesta cidade pela rusga aos cães, pobres animais, que nos servem com tanto zelo, quando convenientemente educados e nos amam com tanto carinho, quando tratados com bondade.

Que essas rusgas se realizem nos países em que a hidrofobia, causada muitas vezes pela privação do alimento, pode ser transmitida pelo cão aos outros animais, incluindo o homem, ainda se poderá admitir. Nos Açores, porém, onde a hidrofobia não existe, a guerra de extermínio feita aos cães – como se fossem animais daninhos – não tem nenhuma circunstância atenuante, e representa um ato de crueldade, como tantos outros que se praticam ingratamente em prejuízo do melhor amigo da espécie humana.
Nem só A Folha se insurgiu contra o desumano procedimento praticado para com os infelizes quadrúpedes, pois acaba de se nos deparar no Zoófilo o seguinte artigo, que gostosamente transcrevemos em reforço da nossa doutrina, para a qual chamamos a atenção de todas as almas compassivas e boas.

O artigo é original do sr. Castro Morais, de Caselas, e foi dado à estampa em 12 do p.p. mês de fevereiro:

“Na minha qualidade de sócio contribuinte da antiga Sociedade Protetora dos Animais, entendo que por todos os princípios justos, racionais e morais, devo tornar público que nos princípios do mês findo apareceu nesta povoação da Caselas, uma cadela abandonada, com tanta fome, que metia dó a quem a visse num tal estado de penúria e abandono!...

Era tanta a fome que as famílias deste povo – todo ele honesto, digno e trabalhador, - todas, com poucas exceções, lhe davam agasalho e as migalhas das suas parcas mesas, pelo que o pobre animal, como sinal de gratidão, a todos demonstrava o seu reconhecimento e afeição.

Vejamos agora qual foi o fim do pobre animal.

Dando eu por falta da cadela nesta povoação, e sentindo um triste pressentimento, procedi a várias investigações, que deram em resultado vir a saber da boca de um rapazinho dos seus 10 anos, de nome João, por alcunha “O ferro velho”, que passando pelo sítio da “Marinheiras”, pouco distante daqui, a “carroça dos cães”, guiada por “dois homens mal-encarados” esses sujeitos meteram o pobre animal dentro da … “inquisitorial carroça”, em companhia doutros mais que já tinham apanhado na sua passagem, indo logo para o “Instituto Bacteriológico” em busca da estricnina que lhes devia dar a morte!

Ao entrar para aquele “sinistro carro”, segundo me disseram algumas testemunhas que viram aquele triste espetáculo, a pobre e desventurada cadela olhando para os circunstantes, parecia querer significar-lhes, por gestos tristes e magoados, a sua despedida, bem lembrada e saudosa pelo belo acolhimento que aqui lhe havia dado o bondíssimo povo desta aldeia.

Em vista deste triste espetáculo, conservarei enquanto vivo for, na minha lembrança, as racionalíssimas palavras do imortal Genovense: “Quanto mais conheço os homens, mais amigo sou dos animais…”

O que se passou sugere-me estas considerações: A polícia enverga uma farda, a qual se acaso não laboro em equívoco, deve ser uma insígnia de honra e valor e, como tal, deve assentar no costado de homens dignos e ajuizados, porque a polícia deve ser um elemento de ordem e de ponderação, e assim, somente deve servir os cidadãos honestos e pacíficos; coibir desmandos e desordeiros, fazendo respeitar a Lei e o princípio da autoridade. A polícia, finalmente, deve ser uma coletividade cheia de cultura e aperfeiçoamento moral, a fim de saber e poder impor-se ao respeito dos elementos confusos e heterogéneos que de vez em quando possam surgir pela sua frente, como nota discordante entre a parte boa e sensata.

Em tais condições a polícia, a meu ver, não deve servir para condutora auxiliar das “carroças de cães”, nem tão pouco para quejandos serviços menos próprios da farda que veste.

Para tais serviços, as Câmaras que criem lugares de zeladores, nomeando para eles indivíduos da sua confiança, e nunca entregando tais serviços à polícia da cidade.
E, demais, as Câmaras Municipais que tenham dias próprios, durante o ano, para os seus varejos, em conformidade com o preceituado na lei geral.

E se o contrário do que eu aqui digo existir por acaso nos códigos de posturas municipais, nesse caso, é mister que tais códigos sejam remodelados quanto antes, por antiquados e vexatórios. Nós não estamos nos tempos das antigas Ordenações, que morreram há muito tempo sem nos terem deixado nenhumas saudades …Bem poucos têm sido os jornais desta capital, que se não referissem com amargura à caça e mortandade canina a que a polícia se tem dedicado com um zelo que melhor empregado seria em livrar a cidade da gatunagem que a infesta.

É necessário que a nossa Associação proteste contra estes escândalos, que estão clamando contra as suas origens, venham elas donde vierem, partam donde partirem…”

(A Folha, nº 629, 7 de Março de 1915)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Entra em ação por uns Açores melhores











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PORTUGUÊS

Caros/as amigos/as,
Pedimos a vossa ajuda no envio desta carta que pede a retirada de videos de touradas dos postos de turismo das ilhas dos Açores.


Agradecemos desde já!





Para: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt



cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com



Bcc: mcatacores@gmail.com





Exmo Senhor Diretor Regional do Turismo

c/c Secretário Regional do Turismo e Transportes, ao Presidente do Governo

Regional dos Açores e aos responsáveis pelas Delegações e Postos de  Turismo dos Açores



Temos conhecimento de que em vários estabelecimentos comerciais, sobretudo os especializados em produtos para turistas, são emitidos regularmente vídeos sobre touradas à corda.



Destes estabelecimentos é bom exemplo a Loja Açores situada nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, onde é possível encontrar três grandes ecrãs a passar, simultaneamente, vídeos de “Marradas”, que conhecemos bem através da publicidade aos mesmos que é feita no Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).



Os mencionados vídeos, para além de transmitem imagens de violência contra os animais, mostram a brutalidade duma tradição que provoca sofrimento às pessoas que, participando são voluntariamente ou não, alvo de ferimentos, nalguns casos de elevada gravidade, ou que acabam por morrer, como já aconteceu este ano na Terceira e no Pico.





Como pessoa consciente e compassiva, venho manifestar a minha preocupação pelo facto da transmissão das referidas imagens constituírem um poderoso instrumento de deseducação para insensibilizar, habituar e até viciar crianças e adultos no abuso sobre animais, o que poderá induzir mais violência sobre animais e sobre pessoas.



Para além do referido, as imagens transmitidas constituem uma enorme vergonha para os Açores e poderão dissuadir o turismo de muitas pessoas provenientes de países onde este tipo de eventos é fortemente repudiado e até perseguido criminalmente



Temos conhecimento que a transmissão de marradas nos aeroportos, para além de já terem deixado horrorizados alguns turistas, tem causado perplexidade a algumas pessoas que têm visitado a Região, a convite de empresas ou do próprio governo regional, e embaraço aos seus acompanhantes.



Face ao exposto, venho solicitar a tomada de medidas no sentido de por fim à transmissão de vídeos de marradas e touradas em todos os locais onde os mesmos possam contribuir para a banalização do sofrimento de animais e pessoas e para manchar a imagem dos Açores junto de potenciais visitantes.





Atentamente,

(Nome)





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ESPAÑOL

Compañeros e Compañeras, les pedimos su ayuda en el envío de esta carta solicitando la eliminación de los vídeos de las corridas de toros en las oficinas de turismo de las islas Azores. 

Muchas gracias!







Para: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt



cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com



Bcc: mcatacores@gmail.com







Exmo. Sr. Director Regional de Turismo

c/c Secretario Regional de los Transportes e Turismo , Presidente del Gobierno Regional de

Azores, responsables por las Delegaciones y Puestos de Turismo de Azores







Tenemos conocimiento de que en varios establecimientos comerciales, concretamente los especializados en productos regionales para turistas, son emitidos regularmente videos de eventos tauromáquicos con toros ensogados.





De este tipo de establecimientos constituye un buen ejemplo la “Loja Açores” situada en las Puertas del Mar, en Ponta Delgada, donde se encuentran tres grandes pantallas que pasan simultáneamente videos de “embestidas y cornadas” que son bien conocidos por la publicidad existente de ellos en Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).



Los videos mencionados, además de trasmitir imágenes de violencia contra los animales, muestran la brutalidad de una tradición que provoca sufrimiento a las personas que, participando o no de forma voluntaria, son objeto de daños corporales, en algunos casos de elevada gravedad, y que en ocasiones acaban incluso por fallecer, como ya sucedió este año en las islas de Terceira y Pico.



Como persona consciente y compasiva, quiero manifestar mi preocupación por el hecho de que la trasmisión de estas imágenes constituye sin duda un poderoso instrumento de deseducación que lleva a insensibilizar, habituar y hasta viciar a niños y adultos en el abuso contra animales, lo que podrá inducir en el futuro más violencia sobre animales y sobre personas.





Además, las imágenes trasmitidas constituyen una enorme vergüenza para las Azores y podrán disuadir para el turismo a muchas personas provenientes de países donde este tipo de eventos es fuertemente repudiado y hasta perseguido criminalmente.



Tenemos constancia de que la transmisión de estas “embestidas y cornadas” en los aeropuertos, además de dejar horrorizados a algunos turistas, ha causado una gran perplejidad a algunas personas que visitan la región, invitadas por empresas o por el propio gobierno, y un gran embarazo a sus acompañantes.



Considerando todo lo expuesto, solicito que se tomen medidas para poner fin a la trasmisión de estos videos en todos los lugares donde puedan contribuir para la banalización del sufrimiento de animales y de personas y donde puedan contribuir para manchar la imagen de las Azores frente a potenciales visitantes.





Atentamente

(Nombre)





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FRANÇAIS

Chers camarades
Nous demandons votre aide en envoyant cette lettre demandant le retrait des vidéos de corridas de bureaux de tourisme des îles Açores.
Je vous remercie à l'avance!








Envoyer à: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt



cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com



Bcc: mcatacores@gmail.com





Monsieur le Directeur Régional au Tourisme

c/c au Secrétaire Régional de Transport e Tourisme, au Président de la Région des Açores et aux responsables des Délégations et Offices de Tourisme des Açores





Nous avons appris que dans plusieurs établissements commerciaux, spécialement dans ceux spécialisés en produits destinés aux touristes, des vidéos de corridas à la corde sont exhibés régulièrement au public.



Le magasin Açores, situé à Portas do Mar, à Ponta Delgada en est un exemple, où trois grands écrans donnent à voir simultanément des vidéos de marradas , bien connues par la publicité diffusée sur Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).



Les vidéos mentionnées, en plus de projeter des images de violence contre des animaux, montrent la brutalité d'une « tradition » qui provoque même de la souffrance aux personnes, participantes, volontaires ou non, puisqu'elles sont souvent blessées grièvement ou même tuées, comme cela a été le cas cette année à Terceira et à Pico.



En tant que citoyen doué de conscience et de compassion, je tiens à manifester mon indignation vis à vis la diffusion de ces images, lesquelles constituent un puissant outil anti-pédagogique, ayant pour effet la désensibilisation et la banalisation de la cruauté envers les animaux, tout en incitant à la violence non seulement contre les animaux mais aussi contre les personnes.



Par ailleurs, ces images sont honteuses pour les Açores, pouvant dissuader plutôt qu'attirer les touristes, lesquels dans leur grande majorité, sont originaires de pays où ces pratiques barbares sont condamnées par la population et interdites par la Loi.



C'est un fait avéré que la diffusion de marradas dans les aéroports, en plus d'étonner les touristes, choquent ceux qui visitent la région invités par les entreprises ou par le gouvernement régional lui-même.



Cela étant dit, je sollicite que des mesures soient prises pour qu'on mette fin à cet étalage de violence gratuite dans tous ces lieux où il contribue à la banalisation de la souffrance animale et des personnes et où il porte préjudice à l'image même des Açores.



Cordialement,

(nome)





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ENGLISH

Dear Friends,
We ask your help in sending this letter requesting the removal of videos of bullfights of tourism offices of the Azores islands.
Thank you in advance! 






To: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt



cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com



Bcc: mcatacores@gmail.com









Mr. Regional Director for Tourism

c/c Regional Secretary of the Transportation and Tourism, the President of the Region of the Azores and leaders of delegations and the Azores Tourist



I have learned that in many commercial establishments, especially those specializing in products for tourists, videos of bullfighting are regularly exhibited to the public.



For example, the store Azores, located at Portas do Mar, Ponta Delgada contains three large screens that are used to show videos of marradas, which can be found on Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4 )



The videos mentioned, in addition to projecting images of violence against animals, show the brutality of a "tradition" that causes suffering to both participants and observers who are often seriously injured or even killed, as was the case this year in Terceira and Pico.



As a citizen endowed with conscience and compassion, I wish to express my opposition towards the dissemination of these images, which have the effect of desensitizing and normalizing cruelty to animals, while inciting violence against both animals and people.



Moreover, these images are shameful for the Azores and deter tourists, the vast majority of whom are from countries where these barbaric practices are condemned by the public and prohibited by law.



In addition, the showing of marradas in airports shocks tourists who visit the region at the invitation of companies or by the regional government itself.



That being said, I ask that measures be taken to end this display of gratuitous violence in all those places where it contributes to the trivialization of the suffering of animals and people, and where it is detrimental to the image of Azores.



Sincerely,

(Name)




















sexta-feira, 16 de novembro de 2012

MANIFESTO





Pelo fim da tauromaquia nos Açores


Desde o século XIX, muitas têm sido as vozes açorianas que se têm insurgido contra as práticas tauromáquicas, entre as quais se destacam: a escritora Alice Moderno, o médico Alfredo da Silva Sampaio, o militante social Adriano Botelho e o professor universitário Aurélio Quintanilha.

É cada vez maior o número de pessoas que entende a tauromaquia como uma expressão de insensibilidade e violência, que deseduca e anula o sentido crítico individual e coletivo.

Nos últimos anos, têm sido publicados estudos que reconhecem que crianças e adultos que assistem a práticas tauromáquicas tornam-se pessoas tendencialmente mais agressivas e violentas.

A ciência comprova que a tourada, como conjunto de práticas cruentas, é causadora de dor e sofrimento a mamíferos que, como os touros e os cavalos, têm um sistema nervoso muito parecido com o humano.

Estando as sociedades em constante evolução, a tradição não pode servir para legitimar ou justificar a continuação de práticas cruéis e violentas. Por esse motivo e pelo reconhecimento de que uma sociedade que se diverte perante o sofrimento alheio não é uma sociedade saudável, são cada vez mais os países, regiões e municípios por todo o mundo a proibir a prática da tauromaquia e outros espetáculos violentos com animais.

Nos Açores, tal como no resto do país, num contexto socioeconómico de dificuldades extremas para o cidadão comum, o estado continua a financiar a tauromaquia com milhões de euros do erário público, sem que isto tenha qualquer impacto no desenvolvimento da economia, beneficiando apenas um pequeno grupo de empresários tauromáquicos.

Para combater e contribuir para a alteração da situação atual, o Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores (MCATA) organiza-se como um coletivo informal de pessoas que apoia a total abolição de todas as práticas tauromáquicas e adota os seguintes princípios:

● Independência face a qualquer outro tipo de grupo social constituído, como partidos políticos, organismos oficiais, grupos económicos, crenças religiosas ou outros grupos de interesse;
● Sem fins lucrativos, todo o trabalho é estritamente voluntário;
● Sem quaisquer hierarquias, é privilegiada a discussão e o consenso como principal método de tomada de decisões.
● A não-violência, o respeito pelo outro e o diálogo estão na base de todas as iniciativas e intervenções.


O MCATA faz um apelo à união de todas as pessoas que lutam pela abolição da tauromaquia e defende a cooperação solidária com todas as organizações abolicionistas da região, e também ao nível nacional e internacional.

Por último, o MCATA compromete-se a lutar para que a Região Autónoma dos Açores acabe com qualquer apoio logístico e financeiro à tauromaquia e invista, antes de mais, nas necessidades básicas dos cidadãos, como a educação, a saúde, a habitação, a ação social, os transportes e na criação e fixação de postos de trabalho, considerando sempre como uma prioridade a conservação, defesa e respeito pelo ambiente, e pelo próximo, nos Açores.

Por uma região sem crueldade e sem violência, junta-te ao MCATA!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Martírio de um boi




Martírio de um boi

Há cerca de 15 dias, um automóvel foi de encontro a um boi, que puxava uma carroça da Ribeira Grande. O animal ficou com o corpo cheio de contusões e uma perna partida.

A culpa foi do carroceiro que transitava sem lanterna (eram 2 horas da manhã), mas quem pagou as favas foi o desgraçado do ruminante. Caído a verter sangue, ficou exposto à curiosidade pública, sem que ninguém lhe acudisse, até às 12 horas do dia. Parece que o mais racional e o mais humanitário teria sido, logo que a polícia teve conhecimento do caso, ter solicitado o serviço do sr. Veterinário distrital, que da forma mais rápida, como perito que é, faria cessar o sofrimento do infeliz.

Nada disso se fez, porém, e assistiram àquele lamentável espetáculo, indigno de uma cidade civilizada, quantos durante tão ao longo tempo transitaram pela Calheta, que é como se sabe uma das ruas mais movimentadas da cidade!

Só ao meio dia surgiu uma carroça destinada a transportar para o matadouro a vítima do acidente. Para içar o desgraçado quadrúpede, já cheio de escoriações, para a mesma, praticaram-se ainda requintes de ferocidade que aos próprios familiares ao Santo Ofício fariam arrepiar. “A Sociedade Micaelense Protetora dos Animais” na pessoa do seu dedicado sócio, sr. Luís J. de Carvalho, tentou intervir, empenhando-se com a polícia para que o boi fosse morto no local onde caíra nobremente, vítima de um acidente de trabalho. À economia do dono do animal, porém, não convinha esta solução, por isso pretendia vender-lhe a carne para um açougue, o que parece não conseguiu. Como tudo isto é profundamente triste e deprimente para a nossa espécie!

(A Folha, nº 600, 6 de Julho de 1914)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Dois Micaelenses Ilustres




Proteção aos animais

Entre os estabelecimentos de caridade que honram a cidade invicta, não deve omitir-se a Sociedade Protetora dos Animais a cuja direção preside um micaelense ilustre, o sr. Dr. José Nunes da Ponte.

Dispondo de um rendimento que as quotas dos sócios e vários legados de beneméritos lhe têm fornecido, a sua receita atingia em 1913 a verba já importante de 1505 escudos, moeda portuguesa, ou sejam 1881 escudos na moeda insulana.

Permite-lhe semelhante rendimento proteger eficazmente os animais, mantendo fontenários, distribuindo prémios, custeando um posto veterinário, tendo empregados remunerados, escritório com telefone, que prontamente comunica com todos os pontos da cidade, etc. etc.

Durante o referido ano económico, foram submetidos à consulta, no posto veterinário 451 animais, distribuídos pelas seguintes espécies:

Gatos 175
Cães 165
Galos 39
Galinhas 29
Papagaios 12
Perús 7
Cavalos 5
Porcos 4
Vacas 3
Cabras 2
Macacos 2
Coelhos 2
Pavões 2
Bois 1
Éguas 1
Gansos 1
Ovelhas 1
Total 451

Além destes animais, foram ainda operados 49, e submetidos a exame de sanidade, 16, o que perfaz o já o bonito número de 515 serviços prestados pelo posto veterinário à população irracional da segunda cidade do país.

Os sócios atingem o número de 1030, dos quais são 22 beneméritos e 12 honorários.

A lista dos mesmos sócios, que temos presente, contém por assim dizer quantos, no meio portuense, se notabilizam pela sua ilustração e posição social.

É também digna do máximo elogio a Comissão Administrativa da Ex.ª Câmara Portuense, que ao referido ano incluiu no seu orçamento extraordinário a importante verba de 1500 escudos para instalação de balanças contrôleurs, destinadas a verificar o peso das carroças puxadas por bestas de carga.

Menciona ainda o relatório da Direção, do qual extraímos os dados deste artigo, os excelentes serviços prestados pelo corpo policial, sendo em número de 2394 as autuações efetuadas por seis guardas cujos números inclui, e foram recompensados pela Sociedade.

Os trabalhos realizados por esta benemérita Associação, que tanto honra e levanta o nível moral da cidade onde se expande e progride, deve servir de incentivo e exemplo ao pequeno número de cidadãos, que hoje constituem a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, onde se encontram tão esforçadas boas vontades, que, certamente, com o auxílio das nossas corporações administrativas e a proteção de alguns beneméritos, conseguirão colocá-la, relativamente, a par das suas congéneres de Lisboa e Porto.

Para o estabelecimento de um posto veterinário conta a Sociedade com a cooperação já prometida das Ex.mas Câmara de Ponta Delgada e Ribeira Grande (a Comissão Administrativa Distrital não se dignou ainda de responder ao ofício que neste sentido lhe foi enviado), sendo a atual receita composta das quotas dos sócios, e muito principalmente do subsídio de 100 escudos anuais, generosamente doados pelo sr. Marquês de Jácome Correia.

Pela parte que nos toca, não nos pouparemos a esforços nem trabalho para minorarmos a triste sorte desses a quem S. Francisco de Assis tão justamente chamou “os nossos irmãos inferiores”.

(A Folha, nº 594, 10 de Maio de 1914)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

MANIFESTO 2012


No Dia do Animal por uma nova política para os animais de companhia

Há um século foram fundadas as primeiras associações de proteção dos animais dos Açores que tinham como preocupação principal combater o abandono e os maus tratos de que eram alvo os animais de companhia e lutar por melhores condições de existência para os animais de tiro, nomeadamente cavalos, bois e burros, que eram vítimas de maus tratos, trabalhavam mesmo doentes e em muitos casos eram mal alimentados.

Desde então até hoje, muitos açorianos se têm dedicado à causa da proteção dos animais, sendo incompreensível como 34 anos depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, na nossa região, como um pouco por todo o mundo, o flagelo do abandono e dos maus tratos aos animais de companhia não tenha sido erradicado.

Hoje, 4 de Outubro de 2012, um conjunto de associações e coletivos dos Açores, consciente da crescente preocupação da sociedade face à proteção dos direitos dos animais, vem manifestar a sua concordância e apoio à petição “Por uma nova política para os animais de companhia” (*), que já conta com mais de 1000 (mil) subscritores.

Assim, considerando também que a presença de animais de companhia no seio das famílias, desde que estas tenham condições para os ter, contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e pode constituir um precioso instrumento de educação das crianças, vimos apelar para que seja:

- Criada, pela Assembleia Legislativa Regional, legislação que promova uma política responsável para os animais de companhia, de forma a evitar o contínuo abate de animais abandonados nos canis municipais e baseada, por um lado, na esterilização dos animais errantes, como método mais eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, na adoção responsável dos animais abandonados;

- Criados acordos com as associações de proteção dos animais dos Açores devidamente legalizadas para a implementação a nível local das políticas de defesa dos animais;

- Respeitada a memória de Alice Moderno, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos, incluindo a esterilização, a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função e propósitos do Hospital Alice Moderno deveria ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.

(*) http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N28493

Açores, 4 de Outubro de 2012

(Nome das Associações por ordem alfabética)
Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Associação Açoreana de Proteção dos Animais
Associação Cantinho dos Animais dos Açores
Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Graciosa
Associação Faialense dos Amigos dos Animais
CADEP-CN - Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria
CAES – Coletivo Açoriano de Ecologia Social
MCATA – Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa e a proteção dos animais



O dia de amanhã, 4 de Outubro, desde 1930, é dedicado, por vários países do mundo, aos animais. Neste dia, são homenageados os nossos amigos animais que, infelizmente, continuam, ainda hoje, a ser desrespeitados por muitos humanos.

Neste texto, uma vez mais, vamos recordar duas pessoas que dedicaram a sua vida à proteção dos animais, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa.

Alice Moderno, francesa por nascimento, nasceu a 11 de Agosto de 1868 e açoriana pelo coração, faleceu, em Ponta Delgada, a 20 de Fevereiro de 1946. A primeira estudante a frequentar o Liceu de Ponta Delgada perdurará para sempre na memória de todos os que, nos Açores, têm compaixão para com os animais, a quem ela, tal como São Francisco de Assis, designava por “nossos irmãos inferiores”.

Toda a vida de Alice Moderno foi dedicada à procura de melhores de condições de vida para os animais, nomeadamente os de tiro, como cavalos, bois, mulas e burros que transportavam pesadas cargas, por vezes insuportáveis para as suas forças, em muitos casos doentes e famintos, sendo alvo de pancadaria sempre que as suas forças faltavam ou tinham o azar de escorregar em caminhos mais íngremes. Os animais de companhia, nomeadamente os cães que abandonados e depois de recolhidos pelas carroças municipais eram envenenados pelos serviços camarários ou que não sendo apanhados pelas sinistras carroças vagueavam pelas ruas, incluindo as de Ponta Delgada, eram envenenados com doses de estricnina, também, não foram por ela esquecidos.

O labor de Alice Moderno em defesa dos animais não se limitou à escrita, quer nos jornais que criou, como “A Folha”, quer noutros jornais dos Açores onde colaborou, como o Correio dos Açores, onde durante muito tempo manteve a seção “Notas Zoófilas”. Com efeito, para além de ter sido uma das fundadoras da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, foi sua presidente entre 1914 e 1946, data do seu falecimento.

Mas, a sua preocupação e amor pelos animais era tanta que vinte dias antes de morrer mandou redigir o seu testamento, onde deixou à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada alguns dos seus bens com vista à criação de um hospital veterinário o qual, segundo o Diário dos Açores de 11 de Agosto de 1967, “à parte a dedicação dos técnicos “, não correspondia à importância do património legado. O mesmo jornal sugeria, na altura, que o mesmo fosse valorizado com vista “a honrar, com inteira justiça, a memória da sua instituidora”.

Na criação da SMPA outra mulher teve um papel de destaque. Com efeito, foi a professora do primeiro ciclo, Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica” quem, com base noutros estatutos, redigiu os da SMPA os quais foram aprovados com pequeníssimas alterações. Evelina de Sousa que também divulgou a causa animal na “Revista Pedagógica” foi colaboradora de Alice Moderno, ao longo da sua vida, tendo sido, também, membro da direção daquela associação.

Hoje, passadas mais de seis décadas do falecimento tanto de Alice Moderno como de Maria Evelina de Sousa, já não se vêm as barbaridades de então, sobretudo porque o progresso fez com que os animais de tiro fossem substituídos por veículos a motor, mas o abandono de animais de companhia não para de crescer como não para de crescer o número dos que são abatidos nos canis. De igual modo é quase diária a chegada de notícias de maus tratos aos animais de companhia um pouco por todo o lado e os animais de tiro que ainda existem nas freguesias rurais continuam a ser tratados como pedras de calçada.

Face ao exposto, para honrarmos a memória das duas pioneiras referidas e de todas as outras pessoas que ao longo dos anos têm dedicado as suas vidas a tentar mudar mentalidades, é fundamental exigir novas políticas públicas para o tratamento dos animais que acabem de uma vez por todas com a que é seguida até hoje e que é a do abate para combater o abandono e a sobrelotação dos canis.

Hoje, numa região que se diz civilizada, é necessário, a par da exigência de uma vida digna para todos os seres humanos, a reivindicação de melhores condições para os animais que connosco partilham a vida na Terra.

É este apelo que fazemos a todas as pessoas de boa vontade e a todas as associações de proteção dos animais que existem nas várias ilhas dos Açores.

Teófilo Braga

sábado, 22 de setembro de 2012

A bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal




Sociedade Micaelense Protetora dos Animais

Esta benemérita associação tem procurado ultimamente entrar em campo prático, sem o que a sua ação pouca utilidade reverteria, quanto à modificação dos nossos costumes relativamente aos direitos dos animais.

Assim, tem já uma sede própria, deixando de utilizar-se do amável oferecimento da benemérita Associação de Bombeiros Voluntários desta cidade, em cujo quartel encontrou sempre a mais generosa hospitalidade para as suas reuniões, quer ordinárias quer extraordinárias.

Para a mesma fez a aquisição de mobiliário, modesto mas decente, e poderá receber de hoje em diante todos os associados, ou não associados que com a mesma tenham algum assunto a tratar.

O Regulamento Policial encontra-se já elaborado pelo digno chefe do distrito, sr. Dr. João Francisco de Sousa, e da redação da introdução ao mesmo foi encarregada a diretora deste jornal, que é também presidente da direção daquela sociedade.

Em conformidade com o que costuma usar a benemérita Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa foi dirigido às autoridades administrativas e militares uma circular, e outra foi endereçada aos professores do círculo pedindo-lhes para que mensalmente façam uma preleção aos seus alunos, no espírito dos mesmos “a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”.

Mais e melhor efetuar a benemérita agremiação, para a existência da qual chamamos a atenção dos nossos exmos leitores, que certamente não quererão deixar de cooperar na eficácia da sua prestante e civilizadora missão.

A sede da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais encontra-se estabelecida na rua Pedro Homem, nº 15, rés-do-chão.

(A Folha, nº 589, 5 de Abril de 1914)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Numa tourada (II)



Muito embora em vários assuntos que nessa ocasião discutimos nos encontremos de perfeito acordo, não abordo o tema perigosíssimo das touradas, nem lhes comunico o que me vai na alma …
De resto, a tourada decorreu como todas as que tenho assistido. Houve ferros bem metidos, e ruidosamente festejados, e após a saída de cada novilho, a quadrilha percorreu a arena, sendo-lhe arremessados dinheiro, flores, cigarros e rebuçados, que os toureirinhos levantavam, agradecendo com garbo peculiar da sua raça.
A única nota discordante é a de um tourinho muito levado da breca, que, logo ao entrar no circo, parece dar cabo de tudo.
Os toureiros, prudentemente, depois de alguns simulacros de desafio, ocultam-se atrás dos esconderijos, sendo conduzidos à arena as doceis vacas pacificadoras, destinadas a induzir o touro a recolher-se ao curral.
Este, porém, ébrio de fúria, e sacudindo belicamente as pontas que se desembolaram, fere com certa profundidade, no peito, uma das companheiras, correndo o sangue em grossos jorros.
Foi a simpática rês a única vítima daquela diversão, tão apreciada pelos nossos vizinhos de oeste. Não é preciso dizer que não saí do circo sem ir inquirir da saúde da pobre sacrificada, encontrando-a muito ferida, sim, mas já pensada, e sofrendo a sua má sorte com uma coragem estoica, o que é, aliás, muito mais vulgar nos irracionais do que na nossa espécie.
E divido com o nobre animal, tão estupidamente ferido, parte da muita simpatia que sagrara ao cavalinho esquelético, daquela quase inofensiva tourada.
(in Cartas das Ilhas, XX, A Folha, nº 487, 10 de Março de 1912)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Alice Moderno e as touradas




Numa tourada (1)

Pela 1 hora da tarde, e depois de havermos, à janela da sala do hotel, inutilmente esperado uma carruagem requisitada, a qual nunca chegou a aparecer, dirigimo-nos a pé para a praça de touros, sita num alto, na freguesia de S. Pedro, indo ocupar um camarote.
Acha-se em Angra uma quadrilha composta de jovens toureiros, los niños sevillanos, rapazes de 16 a 18 anos, ainda imberbes, que correm novilhos com destreza, e fazem as delícias da população terceirense, tão amadora de touros, que bem mostra correrem-lhes nas veias ainda hoje glóbulos de sangue espanhol.
Tanto os camarotes como as bancadas encontram-se repletos de espetadores, e, nos primeiros raios de um lindo sol outonal, cintilam garridamente as cores claras das toiletes femininas das senhoras terceirenses, reputadas, entre as açorianas, pela sua graça e formosura.
Pelos corredores, vendedores ambulantes oferecem favas torradas, milho submetido ao mesmo processo culinário, laranjas e água, e, à entrada, ao balcão, vendem-se refrescos, entre os quais cerveja da fábrica Melo Abreu Herdeiros, de Ponta Delgada.
Começa a diversão por exercícios de ginástica, executada por operários, sócios da agremiação, Recreio dos Artistas.
Toca uma filarmónica e, de espaço a espaço, sobem ao ar pequenas girandolas de foguetes.
Concluídos os exercícios acrobáticos, feitos, com mais ou menos mestria na barra fixa, são retiradas estas e o tapete sobre o qual haviam dado cambalhotas os curiosos ginásticos.
Entra então a quadrilha, que se dirige para o camarote da autoridade, a fazer os cumprimentos do estilo, percorrendo em seguida a praça com vénias aos espetadores.
Os jovens toureiros vestem fatos claros, de vistosas cores. Usam meia de seda, calção, sapatos de fivela e, como é da praxe, rabicho.
Um deles monta um cavalo esquelético, de olhos vendados e é logo para o infeliz quadrúpede que se dirige toda a minha atenção. É ele, não tenho pejo de o confessar, que absorve toda a minha simpatia e para o qual todos os meus melhores desejos…
 Pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior, serviu o homem com toda a sua dedicação e com toda a sua lealdade, consumindo em seu proveito todas as suas forças e toda a sua inteligência!
Agora, porém, no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera, da qual nem pode fugir, visto que tem os olhos vendados!”
E esta fera, pobre animal, também, foi arrancada ao sossego do seu pasto, para ir servir de divertimento a uma multidão ociosa e cruel, em cujo número me incluo!
Entrará assim em várias touradas, em que será barbaramente farpeada até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se, arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere. Depois de reconhecida como matreira, tornada velhaca pelo convívio do homem, será mutilada. Em vez de touro de praça, será boi de charrua ou carroça, ou ambos alternadamente. E lavrará pacientemente, resignadamente, santamente, as terras destinadas a produzir o trigo e o milho que o homem há-de comer.
Quando as suas forças tiverem entrado no período declinatório, dar-lhe-ão, em vez da restrita ração quotidiana, dose dobrada. E quando algum descanso relativo, aliado a esta também relativa superalimentação lhe tiverem revestido o esqueleto de alguns escassos ádipos, será abatido e fragmentado, ainda para alimentação do mesmo homem, que se não esquecerá, também, de lhe utilizar o couro, para defesa dos seus pés, e os cascos e chifres para artefactos do seu uso …
E, então, por um fenómeno físico que muitas vezes tenho observado em mim própria, toda a alegria festiva daquela diversão, em que certamente não haveria morte de gente nem mesmo de bicho, se transforma em melancolia amaríssima, contra a qual dificilmente posso reagir. Tento, todavia fazê-lo. Empunho o meu binóculo, e enquanto não entra o touro, do que serei avisada pelo toque de corneta, vou correndo com a vista os camarotes, em muitos dos quais reconheço caras minhas conhecidas e, em alguns, os meus companheiros de viagem de bordo do Funchal.
Moniz Machado, por exemplo, num camarote próximo àquele em que me encontro, come, ao tempo, denodadamente milho torrado, e parece disposto a gozar a festa em todas as suas peripécias, com o seu infalível bom humor. Para este feliz mortal, não há melancolias nem tristezas, e este vale é bem mais de risos do que de lágrimas!
Toca dentro em pouco a corneta, a música ataca a canção do Toreador da Carmen de Bizet, os capas poem-se em posição, e o cavaleiro empunha a lança com que tem de defender-se, e ao triste cavalinho que monta…

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Concretizar o sonho de Alice Moderno


Concretizar o sonho de Alice Moderno  

Como se não bastasse toda uma vida empenhada na defesa de várias causas, com destaque para proteção dos animais, Alice Moderno, no seu testamento, deixou uma verba necessária para a construção de um Hospital Veterinário, onde os animais de companhia, em especial os pertencentes aos mais desfavorecidos da sociedade, pudessem ser devidamente tratados.

Um arremedo de hospital começou a funcionar, em 1948, num pequeno pavilhão pouco espaçoso na rua Coronel Chaves, onde até há alguns anos funcionou o CATE. As suas minúsculas dimensões e por se assemelhar mais a um canil do que a um hospital fizeram com que o mesmo nunca tenha chegado a ser oficialmente inaugurado.

Mais tarde, a Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada construiu um edifício na Estação Agrária, em São Gonçalo, com um pouco mais de espaço. O mesmo foi dotado do material e da aparelhagem necessária, tendo a sua manutenção ficado a cargo dos rendimentos obtidos através do legado da benemérita Alice Moderno.

Nos primeiros anos, sob a administração da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, presidida pela Dona Fedora Serpa Miranda, com a colaboração da Junta Geral, foi assegurada a enfermagem permanente aos pequenos animais e a consulta diária a animais de todas as espécies, através do veterinário municipal de Ponta Delgada.

Hoje, não se pode falar em hospital veterinário pois no espaço existente funciona um consultório veterinário que era, pelo menos até há pouco tempo, assegurado por vários médicos veterinários que exerciam as suas funções a título privado. Segundo Ana Coelho, em 2009, o número de atendimentos era diminuto e ainda existia graças à boa vontade dos Serviços de Desenvolvimento Agrário e dos especialistas que ali trabalhavam diariamente.

Todos os anos, ultrapassa largamente dois mil o número de animais de companhia (cães e gatos) que são abandonados, acabando na sua maioria por serem abatidos nos canis municipais ou atropelados nas estradas. A título de exemplo, só no canil de Ponta Delgada, em 2009 deram entrada 2088 animais, tendo sido encaminhados para adoção cerca de 780, o que significa que foram abatidos cerca de 1300. Em 2010, deram entrada no mesmo canil  2177 animais, tendo sido abatidos 1278.

No atual contexto socioeconómico da região, onde muitas pessoas perderam emprego e apoios sociais e têm dificuldades em cumprirem o pagamento de todas as despesas destinadas à sua sobrevivência com dignidade, prevê-se que aumente o número de animais que não terão o devido acompanhamento médico veterinário e que aumente o número de abandonos.

O esforço que é feito pelas associações de proteção dos animais, que se debatem com falta de meios e de apoios públicos, acaba por ser muito modesto pois, através dele, só uma pequena parte dos animais irá conseguir tratamento adequado e uma percentagem, também, pequena dos abandonados conseguirá um novo lar.
Sabendo-se que estamos perante um problema humanitário e de saúde pública cuja resolução não pode depender, exclusivamente, do setor privado da atividade médico-veterinária, a situação só poderá ser alterada se a Região Autónoma dos Açores tomar as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Por último, para que a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, seja respeitada sugere-se a transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção de animais ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos.
Este hospital poderia ser cogerido pelas associações de proteção dos animais com atividade, em São Miguel, em parceria com o Governo Regional dos Açores. Assim, seria respeitado o desejo de Alice Moderno que era que fosse assegurado tratamento “aos pobres irracionais desprotegidos da sorte”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 12 de Setembro de 2012)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Assunto Urgente



Vimos hoje tratar de um assunto que tem muito mais importância do que à primeira vista parece.
Trata-se da velocidade com que os automóveis atravessam as nossas ruas, dificultando o trânsito das mesmas, estropiando inofensivos animais domésticos e constituindo um perigo para a vida e para a integridade física do cidadão.
O assunto tão momentoso é que já foi tratado na câmara dos srs. deputados, sessão de 9 do corrente, em que o deputado sr. Carlos Calixto se ocupou da excessiva velocidade dos automóveis em Lisboa, o que não é só culpa da polícia, mas também, e principalmente, dos regulamentos, que permitem 20 quilómetros à hora nas povoações, ao passo que, em geral, não se pode exceder, no estrangeiro, 15 quilómetros.
Não se deveria permitir andamento superior ao de um cavalo a trote; mas, na Junqueira, e nas avenidas novas, os automóveis atingem 60 quilómetros à hora!
O sr. Alberto Silveira acha toda a razão em tais considerações e refere que o regulamento está de tal forma que não há meio de pagar multa, contando o facto curioso de certo cavalheiro querer pagar uma multa e não ser possível fazê-lo!
Acrescenta que até os próprios estrangeiros, assombrados com a velocidade dos nossos automóveis dentro da cidade, se arreceiam de nelas tomar lugar.
O sr. Carlos Calixto, continuando, insiste em pedir providências pelos ministérios do interior e do fomento, e refere ainda que está informado não terem, em geral, os automóveis de praça os dois travões regulamentares, pois não são munidos de alavanca. Assim fazem os “chauffeurs” para evitar o estrago dos protetores; mas isso representa um grave perigo.
O sr. Ministro do interior toma na melhor conta estas considerações que, por via do sr. Governador civil, já lhe haviam chegado ao conhecimento e, de acordo com o seu
colega do fomento, se ocupará de tão importante assunto.
Nesta ilha, emque os automóveis abundam, convém não descurarmos também tão momentosa questão, fazendo cumprir o regulamento existente, e castigando severamente os delinquentes, havendo ainda a acrescentar, como circunstância agravante, o facto da vertiginosa correria dos automóveis não ser devida ao desejo de aproveitar o tempo, sendo em geral as pessoas que menos trabalham as que mais depressa caminham, por luxo de épater o indígena, ou ainda para mostrar a sua perícia como chauffeurs.
  À polícia e à Sociedade Protetora de Animais está naturalmente indicado a correção destes abusos, que ninguém, dotado de bom senso e imparcialidade, poderá deixar de condenar.
Aos membros, pois, da útil corporação e aos beneméritos sócios da segunda, recomendamos este assunto.
҉
Depois de composto este artigo, contou-nos um cavalheiro da nossa amizade que na última quinta-feira, no Pópulo, um automóvel passou sobre um cão, deixando-o em lastimável estado, no meio da estrada, acudindo em volta do animal o rapazio do lugar, que começou a apedrejá-lo, congratulando-se com os gemidos lamentáveis do desgraçado quadrúpede.
Este repugantíssimo espetáculo, só próprio da Cafraria, teria sido evitado se se impusesse aos donos de automóveis que atropelam um animal, - sob pena de policia correcional – o transportá-lo imediatamente à esquadra de polícia cívica, que tomaria conta dele, chamando um veterinário que o tratasse, ou o matasse o menos dolorosamente possível em caso de incurabilidade.
Como está entre mãos do digno comissário de polícia, sr. Dr. António Franco, o Regulamento Policial relativo à proteção devida aos animais, chamamos a atenção deste funcionário para o facto que narrámos e foi presenciado por pessoas dignas de crédito.
Independentemente do sofrimento do infeliz quadrúpede, ante o qual ninguém deixará de se comover, temos ainda a considerar o facto pelo lado educativo.
Que há, com efeito, a esperar, sob o ponto de vista da moral e do sentimento, de cidadãos que, na infância, ao ver um animal contorcer-se, com os membros fraturados, se lembram de lhe suavizar o sofrimento…apedrejando-o? !!!
 E que ideia ficarão fazendo da índole deste povo os estrangeiros, naturais de países onde a proteção ao fraco constitui uma das bases da educação cívica e doméstica, que presenciarem cenas como esta?
Sabemos que na rápida fatura do Regulamento está interessado o ilustre chefe do distrito, e confiamos da poderosa intervenção de s. Ex.ª a absoluta cessação de tão deprimentes espetáculos, o que bastaria para tornar beneficamente profícua para este distrito a administração tão zelosa quanto competente da sua primeira autoridade.
(A Folha, nº 551, 22 de Junho de 1913)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Para que a vontade de Alice Moderno seja respeitada. Assine a petição




POR UMA NOVA POLÍTICA PARA COM OS ANIMAIS DE COMPANHIA

Sua Excelência Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, 
Suas Excelências Presidentes dos Grupos Parlamentares à ALRAA, 
Sua Excelência Presidente do Governo Regional dos Açores, 


Ex.mas/os Senhoras/es,
 

Vimos, através deste instrumento de participação cívica, apelar à classe política e governativa da Região Autónoma dos Açores para que seja criada legislação que se traduza na tomada de medidas no sentido de combater o abandono de animais de companhia e controlar as populações de animais errantes;
 Considerando que atualmente, nos Açores, são abandonados milhares de animais de companhia e que grande parte destes acaba por ser abatida nos canis ou Centros de Recolha Oficiais (CRO);
Considerando o contexto socioeconómico da região, onde muitas pessoas perderam emprego e apoios sociais e que têm dificuldades em cumprirem o pagamento de todas as despesas destinadas à sua sobrevivência com dignidade, o que tem levado a que aumente o abandono de animais de companhia;
Considerando que o abandono de animais é um problema humanitário e de saúde pública cuja resolução não pode depender, exclusivamente, do setor privado da atividade médico-veterinária, ou da boa vontade das Associações, amigos e protetores de animais;
Solicitamos que a Região Autónoma dos Açores tome as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Solicitamos ainda que, seja respeitada a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função do Hospital Alice Moderno poderia ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.

sábado, 1 de setembro de 2012

Animais de Tiro



Sociedade Protetora dos Animais
Esta benemérita sociedade, ultimamente estabelecida em Angra do Heroísmo, atendendo a que é de muito difícil acesso para carroças de transporte de carga a rampa do cais da Alfândega, resolveu, obtida a respetiva autorização do sr. Presidente da Câmara, mandar deitar de conta da Sociedade, uma camada de areia no pavimento da referida rampa, o que se fará por ocasião da chegada dos vapores da carreira.

As torturas impostas por vezes aos pobres animais que ali fazem serviço, devido ao calcetamento estar muito moído e gasto e ao excesso das cargas que os obriga a beijar o chão, caindo sobre os joelhos, que muitas vezes esfolam, está pedindo uma outra ordem de providências que só com o tempo poderão ir sendo tomadas, visto a falta de recursos  com que presentemente lutam as corporações administrativas daquela ilha.

Em Ponta Delgada, nas proximidades da rua dos Mercadores, lado da Graça, existe também uma rampa muito perigosa para os animais de carga, que não raramente caiem e se magoam, sendo ainda em cima maltratados com pancadas pelos ignóbeis condutores que os exploram.

Para esse facto chamamos a atenção da digna Direção daquela benemérita sociedade, à qual cumpre oficiar à Câmara Municipal para que seja reparada aquela parte da rua dos Mercadores, que representa mais um passo no doloroso calvário dos muares indígenas.
(A Folha, nº 522, 21 de Novembro de 1912)

domingo, 26 de agosto de 2012

Sociedade Micaelense Protetora dos Animais



Sociedade Micaelense Protetora dos Animais

Começou esta benemérita sociedade os seus trabalhos, que, muito embora ingratos e árduos, devem vir a ser coroados do melhor êxito.
Não carece de ser defendida a legitimidade da sua existência, e devem estar na mente de todos as causas determinantes da sua criação.
A brutalidade, inata nas mais baixas classes sociais, com raras e muito honrosas exceções, leva-as a considerarem os animais unicamente como produtores de um salário com que os donos se vão locupletando, dando-lhes o alimento indispensável à conservação da sua miserável existência, obrigando-os a trabalhar, quando estão doentes e martirizando-os com mais bárbaros castigos, quando por absoluta impossibilidade física, se recusam a deslocar os fardos, em toda a hipótese superiores às suas forças, que entendem deverem transportar.
Dado este estado de coisas, cumpria ao bom nome da sociedade micaelense, tão propícia, como as que mais o são, à prática do bem, por cobro a que se continuassem a por  em prática os abusos que vimos apontando e que, infelizmente, se iam dando, em cenas pouco edificantes, desenroladas em plena rua.
A infância abandonada e desvalidada tem direito à proteção, e possui, nesta cidade, em belo edifício próprio, um asilo, onde crianças do sexo feminino recebem o pão do corpo e do espírito.
Para os indivíduos do sexo masculino, e identidade de circunstâncias, instituiu um benemérito, João Francisco Cabral, um internato.
Os vencidos da sorte, na época em que os achaques da velhice os inutilizam para o trabalho, encontram também, no Asilo de Mendicidade, o teto que os abriga e a alimentação que os supre.
Para os forasteiros e jornaleiros, que não se veem ainda absolutamente inutilizados, ou, mesmo, não podem, pelo seu feitio, coadunar-se com o internato, foram criados  o Albergue Noturno e a Cozinha Económica, instituições em que a generosidade da alma feminina esplende com os seus mais nítidos fulgores.
Para aqueles que adoecem, e não podem, ou mesmo não querem tratar-se em suas casas, existe o Hospital de Ponta Delgada, que, tanto pelos seus recursos pecuniários, instituídos por opulentos legados de generosos benfeitores, coo pelas suas excelentes instalações cirúrgica e radiográfica, e pelos seus corpos médicos e de enfermagem, pode ser considerado como um dos primeiros do país.
Os animais, porém, nossos irmãos inferiores, segundo a frase tocante do admirável santo que foi São Francisco de Assis, esses, não tinham ainda almas que compartilhassem das suas dores, nem vozes que se levantassem na defesa dos seus direitos.
Felizmente, um grupo de indivíduos bem-intencionados resolveu consagrar alguns dos seus escassos ócios em prol dos infelizes abandonados, e, de ora em diante, como início desta generosa cruzada, serão reprimidas e castigadas cenas de brutalidade de que eram teatro as nossas ruas, e muitas vezes mereceram a mais acerba censura dos forasteiros que nos visitavam.
Por este passo dado na estrada da civilização, de que é fator importantíssimo a piedade para com os que sofrem, felicitamos cordialmente as pessoas que, com prejuízo dos seus interesses próprios, ou ainda inutilizando as poucas horas de descanso que usufruem, fundaram a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, e a têm levado sem esmorecimentos nem impaciências – característico de tíbios e nevróticos – ao ponto em que hoje se encontra, de começar o seu funcionamento, que certamente chamará para ela a atenção do público, que bem merece, e sem a proteção do qual não conseguirá manter-se.
(A Folha, 24 de Novembro de 1912)