segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sociedade Protetora dos Animais



Sociedade Protetora de Animais

Como fora combinado, realizou-se no último domingo a reunião dos membros da imprensa local empenhados na constituição de uma Sociedade Protetora de Animais nesta ilha.
Além dos redatores e representantes da imprensa periódica, compareceram os srs. Amâncio Rocha, Fernando d’Alcântara, Henrique Xavier de Sousa e Manuel Botelho de Sousa.
Convidada a ler os estatutos que elaborara a nossa prezada colega da “Revista Pedagógica”, D. Maria Evelina de Sousa, dessa missão se desempenhou, sendo, após pequeníssimas modificações, plenamente aprovados.
Como sejam necessários dois exemplares escritos em papel selado, ofereceu-se para efetuar essa cópia, o sr. Henrique Xavier de Sousa, que é muito hábil calígrafo, e a quem todos os circunstantes agradecem este serviço prestado à justa e humanitária causa que os reunia ali.
Logo depois de copiados, serão apresentados à aprovação do chefe do distrito.
Não carecemos de recomendar esta humanitária iniciativa, nem os benefícios que está chamada a realizar perante a civilização, já pela caridade que tem por móvel, já como elemento educativo de primeira ordem para as classes populares, que bem carecem dele.
Continuaremos a informar os nossos leitores do movimento desta simpática Associação.
(A Folha, nº 442, 30 de Abril de 1911)

sexta-feira, 27 de julho de 2012


A Proteção aos Animais

Na última quinta-feira, e a convite da redação deste jornal, conferenciaram com esta representantes do Diário dos Açores e da Revista Pedagógica.
Não corresponderam ao aviso que lhes foi remetido por haverem manifestado a sua simpatia pela criação de uma Sociedade Protetora dos Animais, os redatores do Correio Micaelense, nem do São Miguel, tendo o primeiro, sr. Dr. Humberto de Bettencourt, escrito à mesma, alegando a impossibilidade de comparecer à reunião.
Os representantes dos três jornais acima citados deliberaram elaborar estatutos, que serão submetidos à aprovação do governo, devendo reunir-se na próxima segunda-feira, a fim de prosseguirem nos seus trabalhos iniciais.
Aprovados os estatutos, serão convidados a aderir todos os cidadãos de ambos os sexos residentes no distrito, cooperando cada um com uma pequena quota anual, cuja totalidade será depositada na Caixa Económica da Associação de Socorros, destinando-se a prémios, anualmente conferidos, em sessão solene, a quantos se tiverem evidenciado pela sua piedade para com os animais.
Pela redação da Folha foi também alvitrado que se mandasse cunhar uma medalha, que servisse de distintivo aos sócios, tendo verso e anverso, e apresentando num a cabeça de um cão da Terra Nova, e no outro a de um boi, com as seguintes legendas, em um dos lados: Sociedade Protetora dos Animais Micaelense, 1908, e no outro: Pelos nossos irmãos inferiores, frase esta da autoria, como é sabido, de um sábio doutor da igreja.
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Cumpre-nos agora registar, com os elogios que merece, um acto do sr. Capitão João Francisco da Silveira, digno comissário de polícia, que tendo visto, há dias, um indivíduo arrastar brutalmente pela orelha um pobre cão, o mandou chamar por um dos seus subordinados, ameaçando-o com o calabouço, se reincidisse em maltratar o animal.
Folgamos de mencionar este facto, que muito honra a autoridade policial.
É pela proteção aos seres naturalmente desprotegidos que se aquilata a superioridade moral de um povo.
Os americanos, cuja civilização se impõe ao respeito dos países mais adiantados, timbram nas suas leis, em demonstrar, acima de tudo, a sua deferência para com as mulheres, o seu respeito para com os velhos, a sua piedade para com os animais.
Uma cruzada persistente e cheia de dedicação, por parte da imprensa, conseguirá certamente incutir no ânimo de muitos o que sentem alguns, e o grande espírito e grande coração de Emílio Zola, magistralmente interpretaram:
Por que é que o sofrimento dos animais me comove tanto? Porque é que eu não posso ficar insensível à ideia de que um pobre animal sofre, a ponto de me erguer de noite, em pleno inverno, para me certificar de que ao meu gato não falta ração de água? Por que é que a todos os seres da criação considero como relacionados comigo, e a sua lembrança me enche de comiseração, de tolerância e de ternura? Porque os animais fazem também parte da comunidade a que pertenço e a que pertencem todos os meus semelhantes!
(A Folha, nº 321, 29 de Novembro de 1908)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O BE e o Hospital Veterinário Alice Moderno




Comunicado de imprensa:

Hospital Veterinário Alice Moderno deve passar a cumprir objectivo da sua fundadora

Os deputados do Bloco de Esquerda na Assembleia Legislativa dos Açores defendem que Hospital Veterinário Alice Moderno deve mudar a sua forma de funcionar, respeitando a vontade da sua fundadora, pioneira na defesa dos animais nos Açores.

O BE considera que os animais a cargo de associações de proteção dos animais ou de detentores sem capacidade económica devem poder aceder a tratamentos médico-veterinários, nomeadamente a prática de esterilização, no Hospital Veterinário Alice Moderno, a preços simbólicos, e não de acordo com a tabela de preços no sector privado.

A promoção e realização de campanhas de sensibilização contra o abandono e a favor da adopção responsável de animais.

Em requerimento dirigido ao Governo, os deputados do BE perguntam para quando está previsto o cumprimento da vontade da fundadora do Hospital Veterinário que funciona em São Miguel, Alice Moderno, que “sonhava com aquele espaço como um lugar onde, em especial os mais desfavorecidos, pudessem proporcionar um melhor e maior bem-estar aos seus animais de companhia”.

Ponta Delgada, 23 de Julho de 2012

sábado, 21 de julho de 2012

A Proteção dos Animais



A Proteção dos Animais
Ao nosso grito de apelo em prol dos pobres animais, tão onerados de deveres, mas tão desprotegidos de direitos, entre nós, corresponderam quatro dos nossos colegas: Diário dos Açores, San Miguel, Correio Micaelense e Revista Pedagógica.
Ao primeiro destes jornais, que citamos pela ordem cronológica dos locais que produziram, somos devedores, entre outras amabilidades, da transcrição de parte do nosso artigo a favor dos nossos irmãos inferiores.
Com respeito ao último, cumpre-nos elucidar que de há muito existe entre nós a compreensão da necessidade do estabelecimento de uma sociedade protetora dos animais, ideia cuja prioridade por forma alguma disputamos, sendo o primeiro, que saibamos, a aventá-la in illo tempora, o falecido advogado e grande homem de bem, Dr. Henrique Ferreira de Paula Medeiros, (1), que nunca conseguiu dar-lhe, contudo realização. De então para cá, uma ou outra vez têm aparecido pequenos artigos verberando os autores de maus tratos aos irracionais, mas sem que conseguissem serem tomadas providências.
Neste jornal, por mais de uma vez, nos temos ocupado do assunto, e anteriormente o fizemos num diário confiado à nossa direção, O Diário de Anúncios, publicando neste uma série de artigos que obtiveram do Zeoófilo, órgão da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa, a distinção, certamente imerecida, da transcrição integral.
Esses e outros esforços eram visivelmente sinceros mas não passaram das regiões do puro platonismo.
Cumpre agora, que alguns jornais se encontram dispostos a combater em prol do mesmo ideal, não deixar de mão o assunto, que é certamente alevantado e indiscutivelmente civilizador.
Quem trata carinhosamente os animais, tem a alta compreensão dos seus deveres para com os seus semelhantes.
À piedade e à misericórdia tem direito todo o ser vivente, desde o momento em que seja inofensivo e sofra.
Da guerra aos lobos deve resultar, coerentemente, a proteção aos cordeiros.
E como o Diário dos Açores se prontificou a operar ativamente nesta campanha, convidamos a sua redação, na qualidade de decano, a promover uma reunião de representantes dos quatro jornais acima citados, reunião em que poderão ser discutidos os estatutos de uma sociedade protetora dos animais e nomeada a sua direção.
Pela nossa parte, desde já oferecemos a nossa colaboração ativa e constante, assim como a de alguns amigos dos animais, de quem recebemos, por ocasião da publicação do nosso artigo, os mais animadores aplausos.
(1)                 O Dr. Henrique Ferreira de Paula Medeiros era um grande amigo dos animais. Ainda nos lembramos de o ver, montado numa jumenta arcaica, que mal podia com ele, e que não a substituía por não a querer abandonar, em direção à sua quinta da Fajã, onde tão excelente chá verde, confecionado pelas suas próprias mãos, oferecia aos seus amigos.

O quintal de sua casa na rua do Valverde, hoje propriedade do sr. João Luís da Câmara, a cuja esposa, sua sobrinha, a legou, era um verdadeiro asilo para os felinos, que lá cresciam e se multiplicavam, conforme o preceito evangélico.

O cão, amigo do homem, segundo a frase dos franceses, tinha nele um extremoso defensor, achando-se encarregados de alegrar o seu lar de solteirão, alguns felizardos da espécie canina, que muita vez afagamos, no seu gabinete, de mobiliário antigo, cujas paredes eram ocupadas por grandes estantes de mogno.

Desse sossegado quarto de trabalho, possuímos uma relíquia: dois quadros contendo valiosas gravuras em cobre com os retratos das famílias Orleânica e Napoleónica, que devemos à amizade da irmã do Dr. Paula Medeiros, a Exª Sr.ª Dona Maria Ermelinda de Medeiros Botelho, veneranda viúva do nosso saudoso amigo, o grande democrata Dr. José Pereira Botelho.

De resto a caridade do Dr. Henrique de Paula Medeiros estendia-se à espécie humana, e foi em virtude de uma proposta sua, quando deputado por este circulo, que foi votada uma pensão vitalícia aos sobreviventes dos 7000 bravos do Mindelo.
Chamávamos-lhe, por brincadeira que benevolamente consentia aos nossos então verdes anos: Le chevalier sans peur et sans reproche, e, com efeito, bem sentava a divisa de Bayard ao respeitável ancião.

(A Folha, nº 318, 8 de Novembro de 1908)

terça-feira, 17 de julho de 2012

A necessidade de criação de uma sociedade protetora dos animais



A necessidade de criação de uma sociedade protetora dos animais

Vimos hoje levantar um grande grito de protesto e de indignação em prol dos pobres animais, dos nossos irmãos inferiores, segundo a frase de Santo Agostinho.

Vimos apelar para a consciência e para o coração de quem nos lê, e, como nós, presencia todos os dias a forma bárbara porque são tratados pelas classes menos cultas da sociedade.

Dois ónibus que transitam entre Ponta Delgada e Ribeira Grande são movidos respetivamente por três muares, cujo único aspeto constitui uma completa ignomínia. Inverosimilmente esqueléticos, cheios de equimoses e mataduras, não podemos vê-los sem que se nos mova a comiseração mais profunda pelo destino adverso.

Outros, um pouco menos esqueléticos talvez, mas quase tão infelizes, atravessam as ruas de Ponta Delgada ajoujados a carroças, cujos fueiros sinistros constituem o instrumento de suplício que os obriga a deslocar pesos muito superiores às suas forças.
Não há muito, em plena rua da Misericórdia, numa das artérias mais concorridas da cidade, um pobre muar escorregou e caiu, ficando a arquejar sob o peso da carga que transportava, e eram grossos madeiros.

Das lojas vizinhas, honra lhe seja, acudiu gente, que no auge da aflição começou a descarregar a carroça, cujo peso brutal ameaçava quebrar as costelas do animal sufocado. Quem menos se ralou foi o carroceiro, cuja fisionomia alvar exprimia o mais abjeto rancor, sem dúvida pela demora ou incómodo que o incidente lhe causaria. Fomos testemunhas do facto, e connosco um cavalheiro do continente, atualmente em residência nesta cidade, e com o qual, acerca do mesmo, trocámos impressões.
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Não raramente se encontram pequenos carros, transportando sacas, barris ou indivíduos, sãos e robustos, às vezes uma e outra carga, e puxados por carneiros, cujos membros retesados indicam claramente o esforço sobre-humano que fazem para poder transportar as pesadas cargas, umas, além de pesadas, antipáticas.

Os indivíduos que assim abusam do direito da força, quando se lhes faz alguma advertência, respondem insolentemente, o que há apenas dois dias acontecia com dois dos nossos leitores, uma senhora e um cavalheiro, que já depois de escrito em parte este artigo, vieram pedir-nos que tomássemos na imprensa a defesa dos pobres lanígeros e similares.

Este espetáculo odioso e deprimente para o nosso estado de civilização pode ser desde já reprimido.

Bastará um alvará do sr. Governador civil do distrito, proibindo que na zona a cargo da sua administração seja permitido utilizar s carneiros como bestas de carga.

A sua Ex.ª endereçamos desde já um pedido, neste sentido, na certeza de que o aparecimento do referido alvará será acolhido como um ato de boa e justa administração por quantos possuem sentimentos humanitários e presam o bom nome desta ilha perante os estrangeiros que nos visitam.

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Nos campos, existe o costume bárbaro de deixar as crianças devastar ninhos e martirizar pássaros, com grande prejuízo, não só da agricultura, de cujos produtos são os mais vigilantes guardas, mas ainda para o carácter das mesmas crianças, que vão adquirindo hábitos de crueldade, que poderão influir poderosamente, de futuro, nas suas relações interindividuais.

Ora é mister que nos levantemos todos, num grande impulso de caridade, e diligenciemos fazer cessar semelhantes cenas, que são incompatíveis com o século em que estamos e indignas dum povo civilizado.

E nada mais prático se nos afigura, para o conseguir, do que a criação de uma sociedade protetora dos animais, à imitação das que existem em Lisboa e Porto e tão bons serviços tem prestado como elemento civilizador!

Para a realização cabal do alvitre que aqui iniciámos, contamos com a coadjuvação de todos os membros da imprensa micaelense, para a qual apelamos desde já.

E contamos ainda com a coadjuvação de todas as pessoas de boa vontade e de bom coração.

- É necessário que nos unamos nesta nova cruzada.
- É mister acabar com as cenas aviltantes que todos os dias vimos presenciando.
- É preciso que a nossa proteção, a nossa caridade, e a nossa benemerência se estendam, como um benéfico manto, aos nossos irmãos inferiores, a esses pobres animais que nos protegem, nos servem, nos ajudam, nos guardam, nos vestem, nos sustentam e nos amam com tão enternecido e desinteressado afeto!

Guerra sem tréguas aos indivíduos de mau carácter, que espancam as bestas de carga, martirizam os cães e os gatos, e privam os pássaros – essas estrofes aladas – da estremecida e indefesa prole!

Aí fica desde já registado o nosso protesto que, temos fé, encontrará eco em todas as consciências e em todos os corações.
(A Folha, nº 316, 25 de Outubro de 1908)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ata da Reunião da Direcção da SMPA

Esta terá sido a última reunião da SMPA a que assistiu Alice Moderno (Fonte- Diário dos Açores, 8 de Agosto de 1945).

sexta-feira, 6 de julho de 2012


Cães Envenenados



A República de ontem insere uma local assinada por Um diretor de farmácia, censurando A Folha por esta, sob a mesma epígrafe que hoje empregámos, haver reprovado os estabelecimentos farmacêuticos que fornecem estricnina a entidades anónimas e mal-intencionadas, que outras não podem ser as que, sem outra forma de processo, eliminam cães, quer tenham dono quer não.

Ora A Folha, atribuindo essa transação às farmácias, baseou-se, com efeito, na carta de lei de 13 de Julho de 1882, que só permite a venda de drogas medicinais àqueles estabelecimentos e não a quaisquer outros.

Se alguém com menoscabo da mesma lei, negocia com substâncias venenosas, cumpre averigua-lo, para que, sobre o mesmo, incida a penalidade em que incorreu.

E o signatário da local, esclarecendo, nesse ponto, as autoridades locais, terá prestado um bom serviço à sociedade e cumprido um dever cívico.

Quanto às palavras com que remata o seu artigo, cumpre-nos dizer ao autor que o policiamento das ruas compete às autoridades e aos seus agentes, e nunca aos particulares, o que daria lugar a um sem número de abusos que, numa cidade civilizada, não podem, por forma alguma, admitir-se.

Resumindo, da local d’ “A República” deduz-se que além de haver indivíduos malfazejos, que matam animais inofensivos, há estabelecimentos venais, que, ilegalmente, vendem ou exportam substâncias tóxicas, ao que também cumpre obstar, para garantia não só dos animais, mas dos cidadãos da República.

Temos ainda a acrescentar que não houve da nossa parte o mínimo intuito de agravar uma classe honesta, trabalhadora, e à qual  estão confiadas grandes responsabilidades, o que provamos  com o único facto de havermos endereçado o jornal a todos os interessados, a fim de poderem dizer da sua justiça, e em obediência às praxes da lealdade jornalística que nos prezamos de conhecer e praticar.

(A Folha, nº 458, 20 de Agosto de 1911)

domingo, 1 de julho de 2012

Proteger os ninhos e as aves


Proteção aos ninhos
É nesta época que os passarinhos se acasalam e constroem os ninhos destinados a proteger os seus ovos, e, mais tarde, os seus filhos.
É sabida a guerra movida a esses pobres seres, tão graciosos e tão inofensivos, pelas crianças dos campos, que apanham os ninhos, quebram os ovos e engaiolam os passarinhos implumes, condenando-os assim, pela privação dos carinhos paternais, a uma morte horrível.
Este facto, além de ser uma iniquidade, considerada moralmente é um absurdo, se o encararmos pelo lado prático.
Os pássaros, além de terem, como todos os seres inofensivos, direitos à vida, são, além disso, os benfeitores da agricultura.
É bem conhecida a anedota das cerejas e de Frederico Magno da Prússia, que mandou caçar os pardais que lhe comiam os belos frutos, de que era sumamente guloso o régio paladar, decretando depois um édito em contrário, e multando quem destruísse os pardais, por haver reconhecido que os insetos de que estes são ávidos também, lhe devoravam muito mais cerejas do que as pobres aves que ele condenara à morte, numa reedição da bíblica degolação dos inocentes.
Neste sentido, em que tantas vezes nos temos pronunciado, inseriu o nosso ilustre colega Província do Algarve, um eloquente artigo, que vamos, com a devida vénia, reproduzir:
“Desde certa época para cá, tem-se levantado na Europa, uma campanha em favor dos passarinhos, que tão grandes benefícios prestam à agricultura. Limpam as árvores e as plantas de insetos, lagartas e parasitas, que tando danificam e muitas vezes as matam.
Antigamente a ignorância e os preconceitos filhos dela levaram ao absurdo e crueldade de se criarem prémios para os que apresentassem um certo número de cabeças de pássaros! Atualmente dão-se prémios aos que amam e protegem esses pequeninos seres alados tão simpáticos e úteis ao homem.
Na imprensa francesa o sr. Cunisset Carnot está fazendo ativa propaganda no sentido de se organizarem sociedades protetoras contra os inimigos destruidores dos pássaros. Num dos seus interessantes artigos diz ele que de todos os pontos de França tem recebido grande número de cartas animadoras, já de habitantes das cidades, já dos campos, caçadores, grandes proprietários, lavradores e até de crianças e de pobres trabalhadores dos campos. Os amigos das aves, acrescenta, são já uma legião. Parece que todos esperavam ocasião de se manifestarem, e que ele a proporcionou por seus escritos.
Isso mostra que em França já todos reconheceram a utilidade desses pequeninos seres, tão dignos da nossa admiração e simpatia, quer pelas suas belas plumas, quer pelos seus cantos alegres, quer por seus ninhos engenhosos, e quer, finalmente, pelo carinho e dedicação que mostram pelos filhos.
É já tempo, diz o sr. Cunisset Carnot, que façamos alguma coisa para salvarmos as poucas castas de pequenas aves que ainda nos restam, para conservarmos estes seres que são o encanto dos nossos campos e jardins, e obreiros infatigáveis na defesa de nossas colheitas contra toda a espécie de insetos que as devoram.
Aqui nos tornamos eco dessa útil campanha, a fim de que cesse entre nós a guerra e a perseguição aos pássaros pelo próprio homem, como se este fosse uma feroz ave de rapina. É mais do que esta, que mata por necessidade; enquanto o homem mata por prazer, como o gato; ou por estupidez.
Nada mais cruel do que a caça aos ninhos pelos rapazes. Tolerar semelhante ato é perverter o coração da criança, enquanto ensinando-a a amar os passarinhos predispomos o coração dela para o bem e para o amor de todas as criaturas que nos são úteis”.

(A Folha, nº 339, 11 de Abril de 1909)