terça-feira, 6 de novembro de 2012
Martírio de um boi
Martírio de um boi
Há cerca de 15 dias, um automóvel foi de encontro a um boi, que puxava uma carroça da Ribeira Grande. O animal ficou com o corpo cheio de contusões e uma perna partida.
A culpa foi do carroceiro que transitava sem lanterna (eram 2 horas da manhã), mas quem pagou as favas foi o desgraçado do ruminante. Caído a verter sangue, ficou exposto à curiosidade pública, sem que ninguém lhe acudisse, até às 12 horas do dia. Parece que o mais racional e o mais humanitário teria sido, logo que a polícia teve conhecimento do caso, ter solicitado o serviço do sr. Veterinário distrital, que da forma mais rápida, como perito que é, faria cessar o sofrimento do infeliz.
Nada disso se fez, porém, e assistiram àquele lamentável espetáculo, indigno de uma cidade civilizada, quantos durante tão ao longo tempo transitaram pela Calheta, que é como se sabe uma das ruas mais movimentadas da cidade!
Só ao meio dia surgiu uma carroça destinada a transportar para o matadouro a vítima do acidente. Para içar o desgraçado quadrúpede, já cheio de escoriações, para a mesma, praticaram-se ainda requintes de ferocidade que aos próprios familiares ao Santo Ofício fariam arrepiar. “A Sociedade Micaelense Protetora dos Animais” na pessoa do seu dedicado sócio, sr. Luís J. de Carvalho, tentou intervir, empenhando-se com a polícia para que o boi fosse morto no local onde caíra nobremente, vítima de um acidente de trabalho. À economia do dono do animal, porém, não convinha esta solução, por isso pretendia vender-lhe a carne para um açougue, o que parece não conseguiu. Como tudo isto é profundamente triste e deprimente para a nossa espécie!
(A Folha, nº 600, 6 de Julho de 1914)
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