Sociedade
Protetora dos Animais
O sr. Francisco Maria Supico, nosso distinto e
respeitável colega de A Persuasão e Gazeta da Relação, no seu número de 28 de
setembro, do primeiro desses jornais, inseriu a seguinte local:
“Proteção
aos animais – A nossa distinta colega, d’A Folha, reproduzindo no seu número de
11 do corrente, um belo artigo do sr. João Anglin, aluno muito considerado do
Liceu Central desta cidade, sobre criação de uma sociedade protetora dos
animais, a nossa referida colega, repetimos, aproveitou o ensejo para continuar
na simpática, porém até agora pouco feliz propaganda da proteção aos animais.
Está muito bem entregue a causa. Para advogar as que ferem a sentimentalidade,
não há como o coração duma senhora, mormente se ela dispõe dum espírito
luminoso e culto, como o da ilustre colega srª D. Alice. E como a primorosa
escritora se lamenta agora o ter-se visto desajudada dos colegas neste
humanitário trabalho, acudimos a dizer-lhe que não sabemos explicar a causa do
nosso silêncio, a nenhum modo propositado, mas conseguindo-se ir guardando para
amanhã (o santo amanhã de Portugal) o principiar de qualquer coisa que poder
ter demora na conclusão. De um dia para o outro, de semana e mês para semana e
mês vai decorrendo o tempo, passam anos até que por nós mesmos é censurado este
espasmo de torpor que tanto nos magoa.
E
aqui está a nossa desculpa no caso presente. Não lhe atribua outra origem a
ilustre colega, e conte com o nosso aplauso à sua cruzada e com o auxílio mais
ou menos débil, que lhe possamos dar.”
Agradecendo ao ilustre confrade as amabilidades que
nos dirige, pedimos-lhe licença para as contestar, e igualmente a classificação
de débil com que adjetivava o seu auxílio, em prol dos nossos irmãos
inferiores.
Na imprensa não há, felizmente, vox clamantis in deserto, quando a causa é justa e a forma é
correta, além de que, a voz do ilustrado colega, sr. Franscisco Maria Supico,
decano da nossa imprensa, ecoou sempre no meio micaelense com sonoridade e
clareza, sendo consequentemente importante o seu auxílio, que registamos e com
o qual ficamos a contar.
Realizar-se-ão brevemente, na redação deste jornal,
algumas sessões noturnas em que serão elaborados e discutidos os estatutos, a
fim de serem submetidos à autorização superior.
Para presidente da Sociedade será convidado o sr.
António José de Vasconcelos, grande proprietário, agricultor, lavrador e
benemérito micaelense, sendo os restantes membros da Direcção eleitos pela
assembleia geral, composta de todos os cidadãos, sem distinção de sexo, idade
ou classe, que queiram pertencer à sociedade.
De todos os trabalhos realizados iremos dando conta
nos seguintes números deste jornal.
(A Folha, nº 415, 2 de Outubro de 1910)
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