Por proposta do BE autarquia recupera de Sousa em homenagem ao seu legado
28 JUNHO 2013
Por proposta do BE aprovada ontem em reunião da Assembleia Municipal de Ponta Delgada, a autarquia vai proceder à recuperação do jazigo de Alice Moderno, no Cemitério de São Joaquim, e acrescentar o nome de Maria Evelina de Sousa à placa identificativa, ajudando assim a preservar e dignificar a intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelos direitos das mulheres, e pelo respeito pelos animais, entre outras conquistas.
Recomendação apresentada pela deputada municipal do BE, Vera Pires:
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, escritoras, pedagogas e verdadeiras activistas, desenvolveram ao longo de toda a vida intensa intervenção cívica em Ponta Delgada.
Admiradoras de Antero, foi ao lado de Teófilo Braga e de Manuel de Arriaga que fizeram parte do movimento republicano, e com Ana de Castro Osório e Olga Morais Sarmento, entre outras, contribuíram para o surgimento do movimento feminista em Portugal.
Defenderam o direito das mulheres à educação e ao trabalho e colaboraram em campanhas pelo divórcio e pelo sufrágio universal.
A defesa da democratização da educação fez de Alice Moderno a primeira mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada (hoje Escola Secundária Antero de Quental). Maria Evelina é a fundadora da primeira biblioteca anexa a uma escola primária (a de Santa Clara, que dirigia) e Alice Moderno a autora do hino à escola micaelense. Ambas fundaram, dirigiram e colaboraram em diversos periódicos onde abordavam as temáticas dos direitos civis, da justiça social, da emancipação da mulher e dos direitos dos animais.
A preocupação com o bem-estar e a protecção animal, aliada à sua constante actividade de intervenção cívica levou-as a fundar a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais (SMPA).
Em testamento, Alice Moderno destinou parte dos seus bens à construção de um hospital veterinário público que pudesse cuidar gratuitamente dos animais necessitados. O Hospital Veterinário Alice Moderno foi construído em 1948, dois anos após a sua morte, tendo sido dirigido pela SMPA. Com o desaparecimento gradual da SMPA, a manutenção e investimento no hospital foram decrescendo.
A arrematação dos bens de Alice Moderno tornou possível a criação da Casa do Gaiato, nas Capelas, garantindo ao concelho de Ponta Delgada um local de abrigo e acolhimento a jovens privados do seio familiar.
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa morreram com exactamente 8 dias de diferença, em 1946. As duas mulheres, que viveram dedicadas a contribuir para uma sociedade mais justa e igual, estão sepultadas no Cemitério de S. Joaquim de Ponta Delgada, num jazigo mandado construir por Alice Moderno ainda em vida, que apresenta agora um estado de grande degradação.
A intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelas causas mencionadas, merecem ser conhecidas e divulgadas. Elas merecem o nosso reconhecimento e admiração.
Pelo exposto, a representação municipal do Bloco de Esquerda Açores propõe a esta Assembleia Municipal a seguinte recomendação à Câmara Municipal de Ponta Delgada:
- Que a CMPD proceda à recuperação do mencionado jazigo edificado no Cemitério de S. Joaquim, recuperando também a placa identificativa de Alice Moderno e acrescentando o nome de Maria Evelina de Sousa, ajudando deste modo a preservar e dignificar a vontade e a memória destas cidadãs ilustres do concelho de Ponta Delgada.
Fonte: http://acores.bloco.org/noticias/por-proposta-do-be-autarquia-recupera-jazigo-de-alice-moderno-e-maria-evelina-de-sousa-em-h
terça-feira, 6 de setembro de 2016
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Alice Moderno, a política e os políticos (2)
Alice Moderno, a política e os políticos (2)
Hoje, dá-se continuidade ao texto publicado na semana passada sobre a ação política de Alice Moderno que foi muito mais modesta do que a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa.
Sobre os políticos, a propósito de José Bensaúde (1835-1922), distinto e culto industrial e lavrador de origem judaica, que ensinava as operárias da sua fábrica a ler, Alice Moderno escreveu: “alheio à bisca política de nacionalistas, regeneradores e progressistas, todos eles muito boas pessoas na oposição”.
´
Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.
Como já referimos na primeira parte deste texto, até ao momento, não encontramos qualquer informação ou documento que confirme a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é público é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.
Entre Junho de 1918 e Maio de 1925, publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.
Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918, e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:
Quando foram dizer ao grande ex-presidente
Que o seu filho mais novo, ainda adolescente,
Tenente-aviador do exército da América,
Recebera no front a morte heroica e épica
Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado,
Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado
Pelo militarismo, a contrapor afeito
O direito da força à força do Direito,
Roosevelt respondeu, com voz que não tremia:
“Minha mulher e eu sentimos alegria
Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente,
Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!”
Sem comentário algum, dobremos o joelho,
E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!
Defensora da autonomia, Alice Moderno defendia que os deputados deviam ser naturais de cada círculo por conhecerem melhor as realidades locais e os governadores civis deviam ser estranhos às ilhas para não se deixarem influenciar e dominar pelos senhores locais.
Após a queda da Primeira República, em 1926, não conhecemos qualquer intervenção política de Alice Moderno que, a 4 de março de 1927, numa carta a Ana Castro Osório, escreveu o seguinte: “Eu, pela minha parte, estou absolutamente desinteressada da política”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31018, 24 de agosto de 2016, p.16)
Foto: Por FDR Presidential Library & Museum - CT 09-109(1), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47600299
Subscrever:
Mensagens (Atom)