Proteção aos ninhos
É nesta época que os passarinhos se acasalam e constroem os ninhos destinados a proteger os seus ovos, e, mais tarde, os seus filhos.
É sabida a guerra movida a esses pobres seres, tão graciosos e tão inofensivos, pelas crianças dos campos, que apanham os ninhos, quebram os ovos e engaiolam os passarinhos implumes, condenando-os assim, pela privação dos carinhos paternais, a uma morte horrível.
Este facto, além de ser uma iniquidade, considerada moralmente é um absurdo, se o encararmos pelo lado prático.
Os pássaros, além de terem, como todos os seres inofensivos, direitos à vida, são, além disso, os benfeitores da agricultura.
É bem conhecida a anedota das cerejas e de Frederico Magno da Prússia, que mandou caçar os pardais que lhe comiam os belos frutos, de que era sumamente guloso o régio paladar, decretando depois um édito em contrário, e multando quem destruísse os pardais, por haver reconhecido que os insetos de que estes são ávidos também, lhe devoravam muito mais cerejas do que as pobres aves que ele condenara à morte, numa reedição da bíblica degolação dos inocentes.
Neste sentido, em que tantas vezes nos temos pronunciado, inseriu o nosso ilustre colega Província do Algarve, um eloquente artigo, que vamos, com a devida vénia, reproduzir:
“Desde certa época para cá, tem-se levantado na Europa, uma campanha em favor dos passarinhos, que tão grandes benefícios prestam à agricultura. Limpam as árvores e as plantas de insetos, lagartas e parasitas, que tando danificam e muitas vezes as matam.
Antigamente a ignorância e os preconceitos filhos dela levaram ao absurdo e crueldade de se criarem prémios para os que apresentassem um certo número de cabeças de pássaros! Atualmente dão-se prémios aos que amam e protegem esses pequeninos seres alados tão simpáticos e úteis ao homem.
Na imprensa francesa o sr. Cunisset Carnot está fazendo ativa propaganda no sentido de se organizarem sociedades protetoras contra os inimigos destruidores dos pássaros. Num dos seus interessantes artigos diz ele que de todos os pontos de França tem recebido grande número de cartas animadoras, já de habitantes das cidades, já dos campos, caçadores, grandes proprietários, lavradores e até de crianças e de pobres trabalhadores dos campos. Os amigos das aves, acrescenta, são já uma legião. Parece que todos esperavam ocasião de se manifestarem, e que ele a proporcionou por seus escritos.
Isso mostra que em França já todos reconheceram a utilidade desses pequeninos seres, tão dignos da nossa admiração e simpatia, quer pelas suas belas plumas, quer pelos seus cantos alegres, quer por seus ninhos engenhosos, e quer, finalmente, pelo carinho e dedicação que mostram pelos filhos.
É já tempo, diz o sr. Cunisset Carnot, que façamos alguma coisa para salvarmos as poucas castas de pequenas aves que ainda nos restam, para conservarmos estes seres que são o encanto dos nossos campos e jardins, e obreiros infatigáveis na defesa de nossas colheitas contra toda a espécie de insetos que as devoram.
Aqui nos tornamos eco dessa útil campanha, a fim de que cesse entre nós a guerra e a perseguição aos pássaros pelo próprio homem, como se este fosse uma feroz ave de rapina. É mais do que esta, que mata por necessidade; enquanto o homem mata por prazer, como o gato; ou por estupidez.
Nada mais cruel do que a caça aos ninhos pelos rapazes. Tolerar semelhante ato é perverter o coração da criança, enquanto ensinando-a a amar os passarinhos predispomos o coração dela para o bem e para o amor de todas as criaturas que nos são úteis”.
(A Folha, nº 339, 11 de Abril de 1909)
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