A Proteção aos Animais
Na
última quinta-feira, e a convite da redação deste jornal, conferenciaram com
esta representantes do Diário dos Açores e da Revista Pedagógica.
Não
corresponderam ao aviso que lhes foi remetido por haverem manifestado a sua
simpatia pela criação de uma Sociedade Protetora dos Animais, os redatores do
Correio Micaelense, nem do São Miguel, tendo o primeiro, sr. Dr. Humberto de
Bettencourt, escrito à mesma, alegando a impossibilidade de comparecer à
reunião.
Os
representantes dos três jornais acima citados deliberaram elaborar estatutos,
que serão submetidos à aprovação do governo, devendo reunir-se na próxima
segunda-feira, a fim de prosseguirem nos seus trabalhos iniciais.
Aprovados
os estatutos, serão convidados a aderir todos os cidadãos de ambos os sexos
residentes no distrito, cooperando cada um com uma pequena quota anual, cuja
totalidade será depositada na Caixa Económica da Associação de Socorros,
destinando-se a prémios, anualmente conferidos, em sessão solene, a quantos se
tiverem evidenciado pela sua piedade para com os animais.
Pela
redação da Folha foi também alvitrado que se mandasse cunhar uma medalha, que
servisse de distintivo aos sócios, tendo verso e anverso, e apresentando num a
cabeça de um cão da Terra Nova, e no outro a de um boi, com as seguintes
legendas, em um dos lados: Sociedade Protetora dos Animais Micaelense, 1908, e
no outro: Pelos nossos irmãos inferiores, frase esta da autoria, como é sabido,
de um sábio doutor da igreja.
҉
Cumpre-nos
agora registar, com os elogios que merece, um acto do sr. Capitão João
Francisco da Silveira, digno comissário de polícia, que tendo visto, há dias,
um indivíduo arrastar brutalmente pela orelha um pobre cão, o mandou chamar por
um dos seus subordinados, ameaçando-o com o calabouço, se reincidisse em maltratar
o animal.
Folgamos
de mencionar este facto, que muito honra a autoridade policial.
É
pela proteção aos seres naturalmente desprotegidos que se aquilata a
superioridade moral de um povo.
Os
americanos, cuja civilização se impõe ao respeito dos países mais adiantados,
timbram nas suas leis, em demonstrar, acima de tudo, a sua deferência para com
as mulheres, o seu respeito para com os velhos, a sua piedade para com os
animais.
Uma
cruzada persistente e cheia de dedicação, por parte da imprensa, conseguirá
certamente incutir no ânimo de muitos o que sentem alguns, e o grande espírito
e grande coração de Emílio Zola, magistralmente interpretaram:
“Por que é que o sofrimento dos animais me
comove tanto? Porque é que eu não posso ficar insensível à ideia de que um
pobre animal sofre, a ponto de me erguer de noite, em pleno inverno, para me
certificar de que ao meu gato não falta ração de água? Por que é que a todos os
seres da criação considero como relacionados comigo, e a sua lembrança me enche
de comiseração, de tolerância e de ternura? Porque os animais fazem também
parte da comunidade a que pertenço e a que pertencem todos os meus semelhantes!”
(A Folha, nº 321, 29 de Novembro de
1908)
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