Roteiro de Alice Moderno na Cidade de
Ponta Delgada (1)
No passado dia 9 de
Junho, Alice Moderno foi distinguida, pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores,
a título póstumo, com a insígnia Autonómica de Mérito Cívico, numa cerimónia
realizada na Vila de Nordeste.
No dia anterior, 8 de
Junho, dois membros do Coletivo Alice Moderno, sediado na Ribeira Grande,
acompanharam o primo de Alice Moderno, que esteve presente na cerimónia
mencionada, numa pequena visita por diversos locais de Ponta Delgada de algum
modo ligados à vida e obra da escritora, professora, benemérita e mulher de
negócios e de causas, Alice Moderno.
Neste número do
jornal Correio dos Açores dou a conhecer alguns dos locais de Ponta Delgada
associados a Alice Moderno.
1- Rua Manuel da Ponte
No
edifício cujas portas possuem os números 34 e 36 situado na rua Manuel da
Ponte, antiga rua da Fonte Velha, viveu e faleceu, em 1946, Alice Moderno.
Neste
mesmo edifício funcionou a redação e a administração do jornal “A Folha”, bem
como a tipografia “Alice Moderno”.
Foi
nesta tipografia que foram impressas algumas obras de Alice Moderno, como a
peça de teatro, em prosa, “Na véspera da Incursão”, dedicada ao Doutor António
Joaquim de Sousa Júnior, o primeiro ministro da Instrução Pública após a
implantação da República, em 1910, e a peça de teatro, em verso, “A Voz do
Dever”, dedicada ao Dr. Afonso Costa, um dos políticos mais influentes da
Primeira República.
2- Rua do Castilho
No
número 1 da rua do Castilho, funcionou, antes de se mudar para a rua da Fonte
Velha, a redação e a administração do jornal “A Folha” e a tipografia “Alice
Moderno”. Foi aqui que foram impressos o monólogo “Mater Dolorosa”, dedicado “à
grande atriz Lucinda do Carmo”, e “A Apotheose”, peça de teatro escrita, por
Alice Moderno, para homenagear João de Melo Abreu.
Nesta tipografia da Rua do Castilho foram
compostos e impressos os primeiros números do jornal anarquista micaelense
“Vida Nova”, de periodicidade quinzenal, que se apresentava como “Órgão
do Operariado Micaelense” e que viu a luz do dia entre 1 de Maio de 1908 e 30 de Setembro de 1912. O
“Vida Nova” teve como proprietário e diretor Francisco Soares
Silva que foi um dos fundadores da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
3 – Largo de Camões
Em
dependências do Convento da Graça, concluído em 1680, o Governador Civil de Ponta Delgada, Dr. Félix Borges de
Medeiros, por edital de 21 de fevereiro de 1852, mandou instalar o Liceu de Ponta Delgada (o Liceu da
Graça).
Frequentado apenas por rapazes, só em 1887, surgiu a primeira
estudante, Alice Moderno, que “escândalo dos escândalos” usava cabelo cortado.
4- Rua da Mãe de Deus
Alice
Moderno viveu numa época em que havia fome e miséria nos Açores (hoje apenas se
modernizaram) e achava que a solução deveria partir dos órgãos do governo, mas
nunca excluiu a prática da caridade.
Ao
longo da sua vida, através do seu jornal procurava sensibilizar a comunidade e
colaborava quer monetariamente quer compondo poesias expressamente para serem
recitadas em festas de beneficência.
Na
esquina da rua da Mãe de Deus com a Rua Padre César Augusto Ferreira Cabido
existiu o “Asilo da Infância Desvalida”, fundado em 15 de dezembro de 1855, que
já foi “Internato Feminino da Mãe de Deus” e hoje designa-se “Mãe de Deus, Associação de
Solidariedade Social”
Alice
Moderno, no seu testamento, deixou ao “Asilo da Infância Desvalida” uma cruz de
brilhantes com o objetivo de que com o valor da sua venda fosse instituído um
“prémio anual, a atribuir à aluna que mais se distinguisse pelas suas
qualidades de inteligência e trabalho”.
(Continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30375, 2 de Julho de 2014,
p.14)
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