terça-feira, 10 de novembro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)


Fedora Miranda


Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)

Tendo conhecimento de que a Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada ia “habilitar-se ao recebimento dos bens de que era usufrutuária o sr. Victor Moderno, há tempos falecido em New York”, a presidente da SMPA, Fédora Serpa de Miranda, redige a 6 de Março de 1954, um ofício dirigido ao Presidente da Comissão Executiva da Junta Geral, onde faz o ponto da situação e apela à construção do Hospital.
Dado o interesse da carta, aqui fica um extrato: “Está já edificado um pavilhão, destinado à recolha e tratamento de cães e gatos, mas faltam as instalações para outros animais e mesmo para consultas a dar pelos veterinários, e por esse motivo vimos respeitosamente patentear a V. Exª o nosso desejo de que, por essa Exma. Comissão Executiva, seja considerada a efetiva construção do Hospital Veterinário “Alice Moderno”, estabelecimento de grande interesse para esta Sociedade e para quantos cuidam da dignificação do homem, através do bom tratamento dos animais”.
Desconhece-se por quanto tempo Fédora Miranda esteve à frente dos destinos da SMPA, mas sabe-se que em 1954 ela teve de acompanhar o marido, o professor do Liceu Antero de Quental, Dr. Lúcio Miranda, que se exilou em Inglaterra, tendo, no seu regresso, em 1964, para assistir à morte da mãe sido presa no aeroporto de Santa Maria.
A 1 de fevereiro de 1963, a SMPA estava inativa como se pode ler pelo depoimento do Comandante dos Bombeiros Voluntários Roberto Zagalo Cardoso a propósito de uma descida ao Caldeirão para resgatar alguns cães que para lá eram atirados por desumanos. Segundo ele aquela ação surgiu na sequência de um apelo de Manuel Inácio de Melo e “à recordação de uma antiga vizinha deste Quartel- D. Alice Moderno – cuja campanha zoófila recordo ainda com enternecimento, pois fiz parte da antiga Associação Protetora dos Animais, infelizmente, julgo que extinta”.
Através do cartão de uma associada que nos foi apresentado, ficamos a saber que em agosto de 1982 era presidente da SMPA Victor Pedroso e à direção pertencia Gilberto Olegário Baptista que assinou o referido cartão pelo secretário da direção.
No final da década de oitenta do século passado, a sociedade possuía cerca de 600 sócios com as quotas em dia, tendo-se a partir daí assistido ao seu declínio.
Em maio de 1993, o jornal Correio dos Açores, num artigo intitulado “Para os matar?? Câmara à espera de cães vadios”, deu a conhecer a preocupação da Câmara Municipal de Ponta Delgada com o grande número de cães vadios existentes no concelho, tendo a autarquia informado que estava a tomar medidas “em sintonia com outros organismos, concretamente a Sociedade Protetora dos Animais e a PSP”.
A última aparição pública da SMPA terá sido em Maio de 2009, através de um comunicado a condenar “a iniciativa de alguns deputados regionais no sentido de introduzirem nos Açores as chamadas “corridas picadas”, uma vez que tal espetáculo, degradante e medieval, nada tem a ver com a nossa cultura e tradições, para além de constituir um péssimo cartaz turístico para a região”. No mesmo texto a SMPA apelava “aos senhores deputados para não aprovarem uma tal legislação, utilizando o seu tempo e energias na resolução de assuntos mais prementes para a maioria dos Açorianos”.
Desaparecidos os problemas associados ao transporte de cargas, hoje a atenção deverá recair sobre o abandono de animais domésticos, o tratamento dos animais de produção e o retrocesso civilizacional que se está a assistir com a tentativa de introduzir touradas onde não são tradição e de agravar a tortura dos touros bravos.
Face ao exposto e em virtude da prática demonstrar que as associações animalistas não têm capacidade de crescer, agregando mais vontades, e estender a sua atividade para outros animais para além dos de companhia não é descabido o ressurgimento ou a reativação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
Com este texto e por falta de informações disponíveis, termino a série dedicada à Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Espero, um dia, voltar ao assunto.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30781 de 11 nov 2015, p.17)

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