Pobres cães
Se é certo que o cão é o melhor amigo do homem, certíssimo é também que a generalidade dos homens não reconhece a dedicação do pobre animal.
Assim, a rede aos cães vadios, que de antes era feita de tempos a tempos, e depois das 23 horas, faz-se agora quase todas as noites e muito antes da hora acima indicada.
Na última sexta-feira, por exemplo eram apenas 21 horas e meia, passava em frente aos velhos poços concelhios, a sinistra carroça, puxada por um boi pachorrento e triste, e escoltada pelo cabo 38.
Dali a pouco ouviu-se ganir desesperadamente um pobre cão, talvez ferido na ocasião de ser apreendido e atirado ao cárcere, ante câmara de morte pela estricnina.
Pobres cães! Em paga da dedicação que nos votam, condenamo-los à fome, ao frio, ao pontapé da garotada, ao atropelo dos automobilistas e à rede acompanhada da carroça, cujo rodar, sinistro como um dobre a finados, ecoa lugubremente aos ouvidos dos sentimentais, que vendo no cão o amigo super omnia, lamentam que não haja leis que, em paga da sua dedicação, comprovada e proverbial, lhes garantam pelo menos a liberdade de transito até às 24 horas do dia!
(A Folha, nº 625, 17 de Fevereiro de 1915)
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