domingo, 16 de dezembro de 2012
Uma barbárie sem justificação
Referimo-nos não há muitas semanas ao triste espetáculo produzido frequentemente nesta cidade pela rusga aos cães, pobres animais, que nos servem com tanto zelo, quando convenientemente educados e nos amam com tanto carinho, quando tratados com bondade.
Que essas rusgas se realizem nos países em que a hidrofobia, causada muitas vezes pela privação do alimento, pode ser transmitida pelo cão aos outros animais, incluindo o homem, ainda se poderá admitir. Nos Açores, porém, onde a hidrofobia não existe, a guerra de extermínio feita aos cães – como se fossem animais daninhos – não tem nenhuma circunstância atenuante, e representa um ato de crueldade, como tantos outros que se praticam ingratamente em prejuízo do melhor amigo da espécie humana.
Nem só A Folha se insurgiu contra o desumano procedimento praticado para com os infelizes quadrúpedes, pois acaba de se nos deparar no Zoófilo o seguinte artigo, que gostosamente transcrevemos em reforço da nossa doutrina, para a qual chamamos a atenção de todas as almas compassivas e boas.
O artigo é original do sr. Castro Morais, de Caselas, e foi dado à estampa em 12 do p.p. mês de fevereiro:
“Na minha qualidade de sócio contribuinte da antiga Sociedade Protetora dos Animais, entendo que por todos os princípios justos, racionais e morais, devo tornar público que nos princípios do mês findo apareceu nesta povoação da Caselas, uma cadela abandonada, com tanta fome, que metia dó a quem a visse num tal estado de penúria e abandono!...
Era tanta a fome que as famílias deste povo – todo ele honesto, digno e trabalhador, - todas, com poucas exceções, lhe davam agasalho e as migalhas das suas parcas mesas, pelo que o pobre animal, como sinal de gratidão, a todos demonstrava o seu reconhecimento e afeição.
Vejamos agora qual foi o fim do pobre animal.
Dando eu por falta da cadela nesta povoação, e sentindo um triste pressentimento, procedi a várias investigações, que deram em resultado vir a saber da boca de um rapazinho dos seus 10 anos, de nome João, por alcunha “O ferro velho”, que passando pelo sítio da “Marinheiras”, pouco distante daqui, a “carroça dos cães”, guiada por “dois homens mal-encarados” esses sujeitos meteram o pobre animal dentro da … “inquisitorial carroça”, em companhia doutros mais que já tinham apanhado na sua passagem, indo logo para o “Instituto Bacteriológico” em busca da estricnina que lhes devia dar a morte!
Ao entrar para aquele “sinistro carro”, segundo me disseram algumas testemunhas que viram aquele triste espetáculo, a pobre e desventurada cadela olhando para os circunstantes, parecia querer significar-lhes, por gestos tristes e magoados, a sua despedida, bem lembrada e saudosa pelo belo acolhimento que aqui lhe havia dado o bondíssimo povo desta aldeia.
Em vista deste triste espetáculo, conservarei enquanto vivo for, na minha lembrança, as racionalíssimas palavras do imortal Genovense: “Quanto mais conheço os homens, mais amigo sou dos animais…”
O que se passou sugere-me estas considerações: A polícia enverga uma farda, a qual se acaso não laboro em equívoco, deve ser uma insígnia de honra e valor e, como tal, deve assentar no costado de homens dignos e ajuizados, porque a polícia deve ser um elemento de ordem e de ponderação, e assim, somente deve servir os cidadãos honestos e pacíficos; coibir desmandos e desordeiros, fazendo respeitar a Lei e o princípio da autoridade. A polícia, finalmente, deve ser uma coletividade cheia de cultura e aperfeiçoamento moral, a fim de saber e poder impor-se ao respeito dos elementos confusos e heterogéneos que de vez em quando possam surgir pela sua frente, como nota discordante entre a parte boa e sensata.
Em tais condições a polícia, a meu ver, não deve servir para condutora auxiliar das “carroças de cães”, nem tão pouco para quejandos serviços menos próprios da farda que veste.
Para tais serviços, as Câmaras que criem lugares de zeladores, nomeando para eles indivíduos da sua confiança, e nunca entregando tais serviços à polícia da cidade.
E, demais, as Câmaras Municipais que tenham dias próprios, durante o ano, para os seus varejos, em conformidade com o preceituado na lei geral.
E se o contrário do que eu aqui digo existir por acaso nos códigos de posturas municipais, nesse caso, é mister que tais códigos sejam remodelados quanto antes, por antiquados e vexatórios. Nós não estamos nos tempos das antigas Ordenações, que morreram há muito tempo sem nos terem deixado nenhumas saudades …Bem poucos têm sido os jornais desta capital, que se não referissem com amargura à caça e mortandade canina a que a polícia se tem dedicado com um zelo que melhor empregado seria em livrar a cidade da gatunagem que a infesta.
É necessário que a nossa Associação proteste contra estes escândalos, que estão clamando contra as suas origens, venham elas donde vierem, partam donde partirem…”
(A Folha, nº 629, 7 de Março de 1915)
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Entra em ação por uns Açores melhores
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PORTUGUÊS
Caros/as amigos/as,
Pedimos a vossa ajuda no envio desta carta que pede a retirada de videos de touradas dos postos de turismo das ilhas dos Açores.
Agradecemos desde já!
Para: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt
cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com
Bcc: mcatacores@gmail.com
Exmo Senhor Diretor Regional do Turismo
c/c Secretário Regional do Turismo e Transportes, ao Presidente do Governo
Regional dos Açores e aos responsáveis pelas Delegações e Postos de Turismo dos Açores
Temos conhecimento de que em vários estabelecimentos comerciais, sobretudo os especializados em produtos para turistas, são emitidos regularmente vídeos sobre touradas à corda.
Destes estabelecimentos é bom exemplo a Loja Açores situada nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, onde é possível encontrar três grandes ecrãs a passar, simultaneamente, vídeos de “Marradas”, que conhecemos bem através da publicidade aos mesmos que é feita no Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).
Os mencionados vídeos, para além de transmitem imagens de violência contra os animais, mostram a brutalidade duma tradição que provoca sofrimento às pessoas que, participando são voluntariamente ou não, alvo de ferimentos, nalguns casos de elevada gravidade, ou que acabam por morrer, como já aconteceu este ano na Terceira e no Pico.
Como pessoa consciente e compassiva, venho manifestar a minha preocupação pelo facto da transmissão das referidas imagens constituírem um poderoso instrumento de deseducação para insensibilizar, habituar e até viciar crianças e adultos no abuso sobre animais, o que poderá induzir mais violência sobre animais e sobre pessoas.
Para além do referido, as imagens transmitidas constituem uma enorme vergonha para os Açores e poderão dissuadir o turismo de muitas pessoas provenientes de países onde este tipo de eventos é fortemente repudiado e até perseguido criminalmente
Temos conhecimento que a transmissão de marradas nos aeroportos, para além de já terem deixado horrorizados alguns turistas, tem causado perplexidade a algumas pessoas que têm visitado a Região, a convite de empresas ou do próprio governo regional, e embaraço aos seus acompanhantes.
Face ao exposto, venho solicitar a tomada de medidas no sentido de por fim à transmissão de vídeos de marradas e touradas em todos os locais onde os mesmos possam contribuir para a banalização do sofrimento de animais e pessoas e para manchar a imagem dos Açores junto de potenciais visitantes.
Atentamente,
(Nome)
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ESPAÑOL
Compañeros e Compañeras, les pedimos su ayuda en el envío de esta carta solicitando la eliminación de los vídeos de las corridas de toros en las oficinas de turismo de las islas Azores.
Muchas gracias!
Para: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt
cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com
Bcc: mcatacores@gmail.com
Exmo. Sr. Director Regional de Turismo
c/c Secretario Regional de los Transportes e Turismo , Presidente del Gobierno Regional de
Azores, responsables por las Delegaciones y Puestos de Turismo de Azores
Tenemos conocimiento de que en varios establecimientos comerciales, concretamente los especializados en productos regionales para turistas, son emitidos regularmente videos de eventos tauromáquicos con toros ensogados.
De este tipo de establecimientos constituye un buen ejemplo la “Loja Açores” situada en las Puertas del Mar, en Ponta Delgada, donde se encuentran tres grandes pantallas que pasan simultáneamente videos de “embestidas y cornadas” que son bien conocidos por la publicidad existente de ellos en Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).
Los videos mencionados, además de trasmitir imágenes de violencia contra los animales, muestran la brutalidad de una tradición que provoca sufrimiento a las personas que, participando o no de forma voluntaria, son objeto de daños corporales, en algunos casos de elevada gravedad, y que en ocasiones acaban incluso por fallecer, como ya sucedió este año en las islas de Terceira y Pico.
Como persona consciente y compasiva, quiero manifestar mi preocupación por el hecho de que la trasmisión de estas imágenes constituye sin duda un poderoso instrumento de deseducación que lleva a insensibilizar, habituar y hasta viciar a niños y adultos en el abuso contra animales, lo que podrá inducir en el futuro más violencia sobre animales y sobre personas.
Además, las imágenes trasmitidas constituyen una enorme vergüenza para las Azores y podrán disuadir para el turismo a muchas personas provenientes de países donde este tipo de eventos es fuertemente repudiado y hasta perseguido criminalmente.
Tenemos constancia de que la transmisión de estas “embestidas y cornadas” en los aeropuertos, además de dejar horrorizados a algunos turistas, ha causado una gran perplejidad a algunas personas que visitan la región, invitadas por empresas o por el propio gobierno, y un gran embarazo a sus acompañantes.
Considerando todo lo expuesto, solicito que se tomen medidas para poner fin a la trasmisión de estos videos en todos los lugares donde puedan contribuir para la banalización del sufrimiento de animales y de personas y donde puedan contribuir para manchar la imagen de las Azores frente a potenciales visitantes.
Atentamente
(Nombre)
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FRANÇAIS
Chers camarades
Nous demandons votre aide en envoyant cette lettre demandant le retrait des vidéos de corridas de bureaux de tourisme des îles Açores.
Je vous remercie à l'avance!
Envoyer à: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt
cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com
Bcc: mcatacores@gmail.com
Monsieur le Directeur Régional au Tourisme
c/c au Secrétaire Régional de Transport e Tourisme, au Président de la Région des Açores et aux responsables des Délégations et Offices de Tourisme des Açores
Nous avons appris que dans plusieurs établissements commerciaux, spécialement dans ceux spécialisés en produits destinés aux touristes, des vidéos de corridas à la corde sont exhibés régulièrement au public.
Le magasin Açores, situé à Portas do Mar, à Ponta Delgada en est un exemple, où trois grands écrans donnent à voir simultanément des vidéos de marradas , bien connues par la publicité diffusée sur Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4).
Les vidéos mentionnées, en plus de projeter des images de violence contre des animaux, montrent la brutalité d'une « tradition » qui provoque même de la souffrance aux personnes, participantes, volontaires ou non, puisqu'elles sont souvent blessées grièvement ou même tuées, comme cela a été le cas cette année à Terceira et à Pico.
En tant que citoyen doué de conscience et de compassion, je tiens à manifester mon indignation vis à vis la diffusion de ces images, lesquelles constituent un puissant outil anti-pédagogique, ayant pour effet la désensibilisation et la banalisation de la cruauté envers les animaux, tout en incitant à la violence non seulement contre les animaux mais aussi contre les personnes.
Par ailleurs, ces images sont honteuses pour les Açores, pouvant dissuader plutôt qu'attirer les touristes, lesquels dans leur grande majorité, sont originaires de pays où ces pratiques barbares sont condamnées par la population et interdites par la Loi.
C'est un fait avéré que la diffusion de marradas dans les aéroports, en plus d'étonner les touristes, choquent ceux qui visitent la région invités par les entreprises ou par le gouvernement régional lui-même.
Cela étant dit, je sollicite que des mesures soient prises pour qu'on mette fin à cet étalage de violence gratuite dans tous ces lieux où il contribue à la banalisation de la souffrance animale et des personnes et où il porte préjudice à l'image même des Açores.
Cordialement,
(nome)
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ENGLISH
Dear Friends,
We ask your help in sending this letter requesting the removal of videos of bullfights of tourism offices of the Azores islands.
Thank you in advance!
To: acoresturismo@mail.telepac.pt, info.turismo@azores.gov.pt
cc: presidencia@azores.gov.pt, srtt-Info@azores.gov.pt, pt.de.smg@azores.gov.pt, pt.f.smg@azores.gov.pt, pt.ae.smg@azores.gov.pt, pt.de.ter@azores.gov.pt, pt.ae.ter@azores.gov.pt, pt.fai@azores.gov.pt, pt.pic@azores.gov.pt, pt.sjo@azores.gov.pt, pt.gra@azores.gov.pt, pt.sma@azores.gov.pt, pt.flo@azores.gov.pt, dt.lis@azores.gov.pt, pt.por@azores.gov.pt, associacaoportasdomar@gmail.com, turismoacores@visitazores.com, info@artazores.com
Bcc: mcatacores@gmail.com
Mr. Regional Director for Tourism
c/c Regional Secretary of the Transportation and Tourism, the President of the Region of the Azores and leaders of delegations and the Azores Tourist
I have learned that in many commercial establishments, especially those specializing in products for tourists, videos of bullfighting are regularly exhibited to the public.
For example, the store Azores, located at Portas do Mar, Ponta Delgada contains three large screens that are used to show videos of marradas, which can be found on Youtube (http://youtu.be/2h-WhhqFjv4 )
The videos mentioned, in addition to projecting images of violence against animals, show the brutality of a "tradition" that causes suffering to both participants and observers who are often seriously injured or even killed, as was the case this year in Terceira and Pico.
As a citizen endowed with conscience and compassion, I wish to express my opposition towards the dissemination of these images, which have the effect of desensitizing and normalizing cruelty to animals, while inciting violence against both animals and people.
Moreover, these images are shameful for the Azores and deter tourists, the vast majority of whom are from countries where these barbaric practices are condemned by the public and prohibited by law.
In addition, the showing of marradas in airports shocks tourists who visit the region at the invitation of companies or by the regional government itself.
That being said, I ask that measures be taken to end this display of gratuitous violence in all those places where it contributes to the trivialization of the suffering of animals and people, and where it is detrimental to the image of Azores.
Sincerely,
(Name)
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
MANIFESTO
Pelo fim da tauromaquia nos Açores
Desde o século XIX, muitas têm sido as vozes açorianas que se têm insurgido contra as práticas tauromáquicas, entre as quais se destacam: a escritora Alice Moderno, o médico Alfredo da Silva Sampaio, o militante social Adriano Botelho e o professor universitário Aurélio Quintanilha.
É cada vez maior o número de pessoas que entende a tauromaquia como uma expressão de insensibilidade e violência, que deseduca e anula o sentido crítico individual e coletivo.
Nos últimos anos, têm sido publicados estudos que reconhecem que crianças e adultos que assistem a práticas tauromáquicas tornam-se pessoas tendencialmente mais agressivas e violentas.
A ciência comprova que a tourada, como conjunto de práticas cruentas, é causadora de dor e sofrimento a mamíferos que, como os touros e os cavalos, têm um sistema nervoso muito parecido com o humano.
Estando as sociedades em constante evolução, a tradição não pode servir para legitimar ou justificar a continuação de práticas cruéis e violentas. Por esse motivo e pelo reconhecimento de que uma sociedade que se diverte perante o sofrimento alheio não é uma sociedade saudável, são cada vez mais os países, regiões e municípios por todo o mundo a proibir a prática da tauromaquia e outros espetáculos violentos com animais.
Nos Açores, tal como no resto do país, num contexto socioeconómico de dificuldades extremas para o cidadão comum, o estado continua a financiar a tauromaquia com milhões de euros do erário público, sem que isto tenha qualquer impacto no desenvolvimento da economia, beneficiando apenas um pequeno grupo de empresários tauromáquicos.
Para combater e contribuir para a alteração da situação atual, o Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores (MCATA) organiza-se como um coletivo informal de pessoas que apoia a total abolição de todas as práticas tauromáquicas e adota os seguintes princípios:
● Independência face a qualquer outro tipo de grupo social constituído, como partidos políticos, organismos oficiais, grupos económicos, crenças religiosas ou outros grupos de interesse;
● Sem fins lucrativos, todo o trabalho é estritamente voluntário;
● Sem quaisquer hierarquias, é privilegiada a discussão e o consenso como principal método de tomada de decisões.
● A não-violência, o respeito pelo outro e o diálogo estão na base de todas as iniciativas e intervenções.
O MCATA faz um apelo à união de todas as pessoas que lutam pela abolição da tauromaquia e defende a cooperação solidária com todas as organizações abolicionistas da região, e também ao nível nacional e internacional.
Por último, o MCATA compromete-se a lutar para que a Região Autónoma dos Açores acabe com qualquer apoio logístico e financeiro à tauromaquia e invista, antes de mais, nas necessidades básicas dos cidadãos, como a educação, a saúde, a habitação, a ação social, os transportes e na criação e fixação de postos de trabalho, considerando sempre como uma prioridade a conservação, defesa e respeito pelo ambiente, e pelo próximo, nos Açores.
Por uma região sem crueldade e sem violência, junta-te ao MCATA!
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Martírio de um boi
Martírio de um boi
Há cerca de 15 dias, um automóvel foi de encontro a um boi, que puxava uma carroça da Ribeira Grande. O animal ficou com o corpo cheio de contusões e uma perna partida.
A culpa foi do carroceiro que transitava sem lanterna (eram 2 horas da manhã), mas quem pagou as favas foi o desgraçado do ruminante. Caído a verter sangue, ficou exposto à curiosidade pública, sem que ninguém lhe acudisse, até às 12 horas do dia. Parece que o mais racional e o mais humanitário teria sido, logo que a polícia teve conhecimento do caso, ter solicitado o serviço do sr. Veterinário distrital, que da forma mais rápida, como perito que é, faria cessar o sofrimento do infeliz.
Nada disso se fez, porém, e assistiram àquele lamentável espetáculo, indigno de uma cidade civilizada, quantos durante tão ao longo tempo transitaram pela Calheta, que é como se sabe uma das ruas mais movimentadas da cidade!
Só ao meio dia surgiu uma carroça destinada a transportar para o matadouro a vítima do acidente. Para içar o desgraçado quadrúpede, já cheio de escoriações, para a mesma, praticaram-se ainda requintes de ferocidade que aos próprios familiares ao Santo Ofício fariam arrepiar. “A Sociedade Micaelense Protetora dos Animais” na pessoa do seu dedicado sócio, sr. Luís J. de Carvalho, tentou intervir, empenhando-se com a polícia para que o boi fosse morto no local onde caíra nobremente, vítima de um acidente de trabalho. À economia do dono do animal, porém, não convinha esta solução, por isso pretendia vender-lhe a carne para um açougue, o que parece não conseguiu. Como tudo isto é profundamente triste e deprimente para a nossa espécie!
(A Folha, nº 600, 6 de Julho de 1914)
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Dois Micaelenses Ilustres
Proteção aos animais
Entre os estabelecimentos de caridade que honram a cidade invicta, não deve omitir-se a Sociedade Protetora dos Animais a cuja direção preside um micaelense ilustre, o sr. Dr. José Nunes da Ponte.
Dispondo de um rendimento que as quotas dos sócios e vários legados de beneméritos lhe têm fornecido, a sua receita atingia em 1913 a verba já importante de 1505 escudos, moeda portuguesa, ou sejam 1881 escudos na moeda insulana.
Permite-lhe semelhante rendimento proteger eficazmente os animais, mantendo fontenários, distribuindo prémios, custeando um posto veterinário, tendo empregados remunerados, escritório com telefone, que prontamente comunica com todos os pontos da cidade, etc. etc.
Durante o referido ano económico, foram submetidos à consulta, no posto veterinário 451 animais, distribuídos pelas seguintes espécies:
Gatos 175
Cães 165
Galos 39
Galinhas 29
Papagaios 12
Perús 7
Cavalos 5
Porcos 4
Vacas 3
Cabras 2
Macacos 2
Coelhos 2
Pavões 2
Bois 1
Éguas 1
Gansos 1
Ovelhas 1
Total 451
Além destes animais, foram ainda operados 49, e submetidos a exame de sanidade, 16, o que perfaz o já o bonito número de 515 serviços prestados pelo posto veterinário à população irracional da segunda cidade do país.
Os sócios atingem o número de 1030, dos quais são 22 beneméritos e 12 honorários.
A lista dos mesmos sócios, que temos presente, contém por assim dizer quantos, no meio portuense, se notabilizam pela sua ilustração e posição social.
É também digna do máximo elogio a Comissão Administrativa da Ex.ª Câmara Portuense, que ao referido ano incluiu no seu orçamento extraordinário a importante verba de 1500 escudos para instalação de balanças contrôleurs, destinadas a verificar o peso das carroças puxadas por bestas de carga.
Menciona ainda o relatório da Direção, do qual extraímos os dados deste artigo, os excelentes serviços prestados pelo corpo policial, sendo em número de 2394 as autuações efetuadas por seis guardas cujos números inclui, e foram recompensados pela Sociedade.
Os trabalhos realizados por esta benemérita Associação, que tanto honra e levanta o nível moral da cidade onde se expande e progride, deve servir de incentivo e exemplo ao pequeno número de cidadãos, que hoje constituem a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, onde se encontram tão esforçadas boas vontades, que, certamente, com o auxílio das nossas corporações administrativas e a proteção de alguns beneméritos, conseguirão colocá-la, relativamente, a par das suas congéneres de Lisboa e Porto.
Para o estabelecimento de um posto veterinário conta a Sociedade com a cooperação já prometida das Ex.mas Câmara de Ponta Delgada e Ribeira Grande (a Comissão Administrativa Distrital não se dignou ainda de responder ao ofício que neste sentido lhe foi enviado), sendo a atual receita composta das quotas dos sócios, e muito principalmente do subsídio de 100 escudos anuais, generosamente doados pelo sr. Marquês de Jácome Correia.
Pela parte que nos toca, não nos pouparemos a esforços nem trabalho para minorarmos a triste sorte desses a quem S. Francisco de Assis tão justamente chamou “os nossos irmãos inferiores”.
(A Folha, nº 594, 10 de Maio de 1914)
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
MANIFESTO 2012
No Dia do Animal por uma nova política para os animais de companhia
Há um século foram fundadas as primeiras associações de proteção dos animais dos Açores que tinham como preocupação principal combater o abandono e os maus tratos de que eram alvo os animais de companhia e lutar por melhores condições de existência para os animais de tiro, nomeadamente cavalos, bois e burros, que eram vítimas de maus tratos, trabalhavam mesmo doentes e em muitos casos eram mal alimentados.
Desde então até hoje, muitos açorianos se têm dedicado à causa da proteção dos animais, sendo incompreensível como 34 anos depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, na nossa região, como um pouco por todo o mundo, o flagelo do abandono e dos maus tratos aos animais de companhia não tenha sido erradicado.
Hoje, 4 de Outubro de 2012, um conjunto de associações e coletivos dos Açores, consciente da crescente preocupação da sociedade face à proteção dos direitos dos animais, vem manifestar a sua concordância e apoio à petição “Por uma nova política para os animais de companhia” (*), que já conta com mais de 1000 (mil) subscritores.
Assim, considerando também que a presença de animais de companhia no seio das famílias, desde que estas tenham condições para os ter, contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e pode constituir um precioso instrumento de educação das crianças, vimos apelar para que seja:
- Criada, pela Assembleia Legislativa Regional, legislação que promova uma política responsável para os animais de companhia, de forma a evitar o contínuo abate de animais abandonados nos canis municipais e baseada, por um lado, na esterilização dos animais errantes, como método mais eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, na adoção responsável dos animais abandonados;
- Criados acordos com as associações de proteção dos animais dos Açores devidamente legalizadas para a implementação a nível local das políticas de defesa dos animais;
- Respeitada a memória de Alice Moderno, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos, incluindo a esterilização, a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função e propósitos do Hospital Alice Moderno deveria ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.
(*) http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N28493
Açores, 4 de Outubro de 2012
(Nome das Associações por ordem alfabética)
Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Associação Açoreana de Proteção dos Animais
Associação Cantinho dos Animais dos Açores
Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Graciosa
Associação Faialense dos Amigos dos Animais
CADEP-CN - Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria
CAES – Coletivo Açoriano de Ecologia Social
MCATA – Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa e a proteção dos animais
O dia de amanhã, 4 de Outubro, desde 1930, é dedicado, por vários países do mundo, aos animais. Neste dia, são homenageados os nossos amigos animais que, infelizmente, continuam, ainda hoje, a ser desrespeitados por muitos humanos.
Neste texto, uma vez mais, vamos recordar duas pessoas que dedicaram a sua vida à proteção dos animais, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa.
Alice Moderno, francesa por nascimento, nasceu a 11 de Agosto de 1868 e açoriana pelo coração, faleceu, em Ponta Delgada, a 20 de Fevereiro de 1946. A primeira estudante a frequentar o Liceu de Ponta Delgada perdurará para sempre na memória de todos os que, nos Açores, têm compaixão para com os animais, a quem ela, tal como São Francisco de Assis, designava por “nossos irmãos inferiores”.
Toda a vida de Alice Moderno foi dedicada à procura de melhores de condições de vida para os animais, nomeadamente os de tiro, como cavalos, bois, mulas e burros que transportavam pesadas cargas, por vezes insuportáveis para as suas forças, em muitos casos doentes e famintos, sendo alvo de pancadaria sempre que as suas forças faltavam ou tinham o azar de escorregar em caminhos mais íngremes. Os animais de companhia, nomeadamente os cães que abandonados e depois de recolhidos pelas carroças municipais eram envenenados pelos serviços camarários ou que não sendo apanhados pelas sinistras carroças vagueavam pelas ruas, incluindo as de Ponta Delgada, eram envenenados com doses de estricnina, também, não foram por ela esquecidos.
O labor de Alice Moderno em defesa dos animais não se limitou à escrita, quer nos jornais que criou, como “A Folha”, quer noutros jornais dos Açores onde colaborou, como o Correio dos Açores, onde durante muito tempo manteve a seção “Notas Zoófilas”. Com efeito, para além de ter sido uma das fundadoras da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, foi sua presidente entre 1914 e 1946, data do seu falecimento.
Mas, a sua preocupação e amor pelos animais era tanta que vinte dias antes de morrer mandou redigir o seu testamento, onde deixou à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada alguns dos seus bens com vista à criação de um hospital veterinário o qual, segundo o Diário dos Açores de 11 de Agosto de 1967, “à parte a dedicação dos técnicos “, não correspondia à importância do património legado. O mesmo jornal sugeria, na altura, que o mesmo fosse valorizado com vista “a honrar, com inteira justiça, a memória da sua instituidora”.
Na criação da SMPA outra mulher teve um papel de destaque. Com efeito, foi a professora do primeiro ciclo, Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica” quem, com base noutros estatutos, redigiu os da SMPA os quais foram aprovados com pequeníssimas alterações. Evelina de Sousa que também divulgou a causa animal na “Revista Pedagógica” foi colaboradora de Alice Moderno, ao longo da sua vida, tendo sido, também, membro da direção daquela associação.
Hoje, passadas mais de seis décadas do falecimento tanto de Alice Moderno como de Maria Evelina de Sousa, já não se vêm as barbaridades de então, sobretudo porque o progresso fez com que os animais de tiro fossem substituídos por veículos a motor, mas o abandono de animais de companhia não para de crescer como não para de crescer o número dos que são abatidos nos canis. De igual modo é quase diária a chegada de notícias de maus tratos aos animais de companhia um pouco por todo o lado e os animais de tiro que ainda existem nas freguesias rurais continuam a ser tratados como pedras de calçada.
Face ao exposto, para honrarmos a memória das duas pioneiras referidas e de todas as outras pessoas que ao longo dos anos têm dedicado as suas vidas a tentar mudar mentalidades, é fundamental exigir novas políticas públicas para o tratamento dos animais que acabem de uma vez por todas com a que é seguida até hoje e que é a do abate para combater o abandono e a sobrelotação dos canis.
Hoje, numa região que se diz civilizada, é necessário, a par da exigência de uma vida digna para todos os seres humanos, a reivindicação de melhores condições para os animais que connosco partilham a vida na Terra.
É este apelo que fazemos a todas as pessoas de boa vontade e a todas as associações de proteção dos animais que existem nas várias ilhas dos Açores.
Teófilo Braga
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